A ATITUDE TEOSÓFICA1
C.W. Leadbeater 2
Tem sido mais de uma vez
declarado que a atitude teosófica perante a vida é mais importante do que o
conhecimento teosófico, e os estudantes perguntam, freqüentemente, como essa
atitude poderá ser obtida. É, na verdade, a primeiríssima coisa que o estudante
necessita e todavia é, usualmente, a última que ele alcança; pois ela não
poderá ser obtida apenas pela leitura a respeito, nem poderá ser aprendida
meramente como uma lição, é algo em que
um homem cresce lentamente, como resultado do seu estudo, e mais propriamente
ainda de seus esforços para pôr esse estudo em prática.
É nosso costume
dizer que a Teosofia não é uma religião, mas é, mais propriamente, a filosofia
que é base de todas as religiões. Isso é totalmente verdadeiro e ainda,
certamente, é também verdadeiro dizer que nossa Teosofia nos supre com uma
grande quantidade do estímulo que se espera que os devotos de religiões obtêm
das mesmas. Tenho considerado, em outro lugar, que ela é na verdade uma filosofia,
uma religião e uma ciência. Uma filosofia, por ser uma teoria inteligível e
satisfatória da constituição e da razão do universo; uma religião, porque nos
fala de Deus, de sua relação com o homem, e de sua vontade com respeito ao nosso progresso; uma ciência, porque nos
propõe seus ensinamentos não como meras teorias abstratas, porém como deduções
extraídas de fatos que foram repetidamente observados.
Apesar de ser,
até esta extensão, como uma religião, ela afeta seus seguidores muito
diferentemente do que outras religiões. Nós, do Ocidente, estamos acostumados a
uma religião que é absolutamente divorciada da prática – que não tem qualquer
relação com a vida diária. Com exceção, talvez, de um pequeno número de pessoas
pertencentes a ordens monásticas, ninguém faz nenhuma tentativa de, realmente,
realizar os ensinamentos do Cristo. É costume considerar-se que qualquer pessoa
que vá à Igreja regularmente, que faça algumas doações de caridade e viva, em
geral, uma vida de auxílio e de bondade, esteja
impelida por motivos religiosos e esteja fazendo tudo o que se pode
esperar de um seguidor do Mestre da Palestina. Além disso, se nós encararmos os
fatos, em vez de nos escondermos por trás das convenções, descobriremos que as
pessoas, que fazem essas coisas, fazem-nas principalmente por causa de sua
própria propensão bondosa, e não por
especial observância a quaisquer mandamentos religiosos; e, além do
mais, elas não estão, de maneira alguma, preparadas para seguir as verdadeiras
instruções atribuídas ao Cristo. Ele diz:
“Não vos
preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer ou quanto ao que
haveis de beber; nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir”(Mateus
VI.25). “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã cuidará
de si mesmo”(Mateus VI.34).”Não julgueis, para que não sejais julgados”(Mateus
VII.1). “Se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao
que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a
capa”(Mateus V.39-40). “Vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, (...) e vem, e
segue-me”(Mateus XIX.21). “Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e
mãe, e esposa, e filhos, e irmãos, e irmãs, (...) não poderá ser meu
discípulo”(Lucas XIV.26).
Os cristãos dirão
a vocês que tais mandamentos são inadequados ao espírito cristão da atualidade,
e não se pretende que sejam seguidos literalmente. Tem sido dito, até, que se
fossem seguidos literalmente, iriam provocar mais danos do que benefícios.
Talvez nas condições de uma sociedade imensamente artificial, como a nossa
atual, isso possa ser verdade; mas isso não altera o fato de que é inútil para
os homens terem-se na conta de seguidores de Cristo, se não estiverem
preparados para pôr em prática as instruções que, segundo se diz, foram dadas
por Ele. Nem mesmo aqueles que professam seguí-Lo fazem qualquer tipo de
tentativa para realizar tais instruções em sua vida diária. Obviamente,
ser-lhes-ia extremamente inconveniente fazer isso.
O mesmo é
verdadeiro para as demais religiões. Todas as grandes religiões do mundo
oferecem o mesmo ensinamento ético aos seus devotos. Se cada homem apenas
seguisse realmente o ensinamento de sua religião, não importando qual ela
fosse, nós teríamos, de uma só vez, algo como o milênio do reino de Cristo na
Terra, e sem nenhum novo problema. Há felizmente, muitas pessoas boas no mundo
– muita gente com uma bondade mediana, i. e. – mas apenas muito poucos que na
verdade obedecem plenamente aos ensinamentos de sua própria religião.
Poderia-se perguntar por que isto é assim. A causa disso parece ser que nenhuma
dessas pessoas realmente acredita no que declara acreditar. Elas pensam
sobre esses ensinamentos religiosos como
algo em que se espera delas uma aceitação formal aos domingos, mas, de modo algum, como
verdadeiras regras de vida a serem
postas em prática cada dia e ao longo de todo o dia.
Dessa forma,
perceber-se-á que a crença religiosa fica numa categoria absolutamente
diferente daquilo que se pode chamar da crença científica, ou aquela crença que
é baseada em conhecimento real. Um homem que tem diante de si um fato
científico sabe que pode confiar nesse fato, e por isso ele age em conformidade. Se
ele lidou com alguma coisa experimentalmente, ele sabe exatamente o que fazer
com ela, e ninguém poderá persuadi-lo a agir contra a experiência que, daquele
modo, ele adquiriu. Um homem sabe que o fogo irá queimá-lo, ele é sempre
cuidadoso ao lembrar-se deste fato. Ele sabe que a água sempre descerá morro
abaixo, por isso ele nunca agirá como se esperasse que ela corresse para cima.
Contudo, um homem defenderá os mais exaltados sentimentos religiosos, e agirá
na vida diária em direta contradição a eles. Obviamente, isso pode ocorrer
somente porque os sentimentos são meramente superficiais, e ele não crê realmente
neles, em absoluto
Sendo assim,
existe esta enorme diferença entre o modo como um teósofo adota a sua Teosofia
e o modo como o religioso comum adota a sua religião – é que o teósofo não pode
senão realmente acreditar nos ensinamentos a ele oferecidos, e por isso ele,
obviamente, age em
conformidade. Se for
descoberto que ele não age em conformidade, então a mesma lógica sem remorsos
se aplica – ele não é, de modo algum, um verdadeiro teósofo. Este então é o
segredo da atitude teosófica perante a vida; é a atitude de quem realmente
acredita naquilo que as outras pessoas somente declaram acreditar – ele
acredita nisso tão plenamente que na vida diária ele age como se isso fosse
verdade. Há homens que se filiaram à Sociedade Teosófica, e posteriormente a
abandonaram, mas estes nunca foram verdadeiros teósofos.
Uma pessoa pode
adotar uma série de regras, viver em conformidade com elas por algum tempo, e
depois se cansar delas e decidir abandoná-las; porém isto somente é possível
quando tais regras não são leis da Natureza, mas apenas leis arbitrárias
aceitas voluntariamente. Assim, um homem pode aceitar uma religião e logo
deixá-la outra vez; mas aceitar verdadeira e plenamente a Teosofia é abrir os
olhos para um conjunto de novas verdades, adquirir uma quantidade de
informações adicionais as quais são impossíveis de ignorar-se posteriormente.
Um homem que conheceu e compreendeu essas verdades jamais poderá desaprendê-las
– nunca poderá cair novamente na situação de quem as ignora, é mesmo tão
impossível quanto seria para um homem regredir em seu crescimento até tornar-se
criança outra vez. Portanto, aquele que alcançou uma vez a atitude teosófica
não poderá perdê-la novamente, ele pode muitas vezes falhar em viver conforme
aquele padrão, mas ele assim sempre saberá que falhou e perpetuamente lutará em
busca de um sucesso mais perfeito. Tendo uma vez visto o sol, nunca mais
poderemos negar a sua existência, mesmo que, por um período de tempo, ele possa
estar oculto de nossas vistas; e da mesma maneira, um homem que compreendeu uma
vez a verdade da Teosofia, e teve toda sua vida expandida e colorida por ela,
nunca mais poderá cair novamente na ortodoxia ou no materialismo.
Como poderá
alcançar-se tal atitude ser alcançada? Não há nenhuma maneira senão tornar a
Teosofia real em nossas vidas, tornar-se permeado pelo sentimento teosófico e
pelo modo teosófico de olhar para todas as coisas. Considera as três grandes
verdades básicas apresentadas em
O Idílio do Lótus Branco – que Deus é bom, que o
homem é imortal, e que o que ele semear, isso também ele colherá. Meramente
aderir a estas palavras como a uma crença sentimental significa pouco; mas o
homem que tem absolutamente certeza delas, que sente profundamente dentro de si
que elas são verdadeiras, sabe que ele tem, por meio delas, uma base
absolutamente segura, que através delas ele poderá obter todas as coisas boas,
se ele apenas trabalhar firmemente para consegui-las.
Vê quantos outros
fatos imediatamente decorrem desta certeza. Eu desenvolvi alguns corolários na
obra An Outline of Theosophy. Se Deus
é bom, então todas as coisas tendem em direção a um fim que será bom para
todos. Por isso, uma pessoa que se permita sentir-se desgraçada por quaisquer
eventos que aconteçam, ainda não compreendeu a realidade desta verdade. Um
homem que se permita sentir pesar ou depressão, não acredita realmente que Deus
é bom. O pesar ou o sofrimento evanescentes são mais verdadeiros para ele do
que a grande verdade que existe subjacentemente. Sei muito bem que nem sempre é
fácil ver que todas as coisas estão trabalhando conjuntamente para o bem, mas
isso é assim porque nós as vemos apenas parcialmente e não compreendemos como
elas se ajustam dentro do grande Plano. Não negamos a existência do mal, mas
afirmamos que todo o mal , realmente, é obra do homem, e surge diretamente como
o resultado da violação da lei divina. Por isso a atitude teosófica inclui
perfeita calma, pois um homem que sabe que tudo deve estar bem não pode se
preocupar.
Embora tudo
esteja tendendo para um fim glorioso, este ainda não foi atingido de modo
algum, e por isso quando vemos múltiplos erros e sofrimentos à nossa volta,
devemos fazer tudo o que pudermos para acertar as coisas – permitir que o bem
essencial se manifeste. Porém se, apesar de todos os nossos esforços, as coisas
não puderem ser conduzidas para o bem, ao menos não será por nossa falta. A
Deidade confia ao homem uma certa quantidade de livre-arbítrio, e portanto o
homem pode usá-lo mal, e uma certa proporção da humanidade sempre procede
assim. Se as coisas não forem tão bem quanto deveriam, certamente haverá uma
boa razão no presente para que assim seja, pois sabemos com absoluta certeza
que, finalmente, ficarão bem. Por que, então, deveríamos nos preocupar com
isso? Aquele que se preocupa não é um verdadeiro teósofo, pois tal hábito envia
vibrações maléficas, que muito prejudicam os outros, e nenhum teósofo
prejudicaria, intencionalmente, qualquer ser vivo. Ele, também, não poderia
senão sentir que o homem que se preocupa está desconfiando de Deus –
demonstrando falta de fé em Seu poder e em Seu amor. Sua atitude deve ser uma
de máxima confiança.
Novamente,
segue-se que se Deus é bom e é o Pai amoroso da humanidade, os homens devem
também ser irmãos – como de fato todos os teósofos já sustentam, uma vez que
promover a fraternidade é o primeiro dos três objetivos da Sociedade Teosófica.
Porém, se nós sustentamos esta verdade da fraternidade da humanidade, torna-se
impossível para nós continuarmos a agir egoisticamente, pois, se um homem
compreende que não é mais um ser separado dos outros, ele não pode mais ser
egoísta. Alguns de nossos membros, a respeito desses assuntos, dizem:
“Intelectualmente,
acreditamos que tudo isto é assim, porque o ensinamento teosófico parece-nos
ser uma hipótese muito mais do que satisfatória, válida para tudo o que nós
vemos no mundo; mas não temos aquela certeza absoluta desses assuntos que
somente pode vir do conhecimento direto, e assim nossos sentimentos às vezes se
sobrepõem a nós e parecemos perder a segurança, por um tempo, das verdades
fundamentais”.
Simpatizo
inteiramente com aqueles que possuem tais sentimentos. Tenho reconhecido que
alguns de nós possuem uma grande vantagem, aqueles que têm tido experiência
direta, que, pelo uso de faculdades superiores têm visto provas esmagadoras da
verdade dessas grandes declarações. Sei muito bem quão imensa é a diferença
entre nossa certeza absoluta e mesmo a mais forte convicção a qual se chega
meramente através da razão. Porém, se um homem iniciar com a teoria teosófica
como uma hipótese, ele descobrirá que tudo que acontece se ajusta a ela e é por
ela explicado, e ele encontrará diversas circunstâncias corroborativas – cada
uma delas talvez seja pequena em si mesma, porém, cumulativamente, passam a ter
uma força enorme – até que, gradualmente, sua convicção se expanda e aprofunde
na certeza.
Um homem que se
recusa a aceitar uma teoria tal como esta, constantemente encontrará fatos que
para ele são inexplicáveis – fatos que não se ajustarão em seu esquema. Se, por exemplo, um homem negar a existência
do mundo astral, e da vida após a morte, ele se encontrará sem qualquer
explicação racional para um grande número de fenômenos autênticos e de toda
sorte de acontecimentos menores na vida diária; ele terá que ignorar essas coisas
ou atribuí-las (contra toda a razão e bom senso) à alucinação, enquanto um
homem que compreende os fatos do caso pode ajustá-los facilmente dentro do
esquema que já existe em sua mente. Ele poderá não compreender em detalhes como
os resultados são produzidos, mas ele verá imediatamente que estão em
conformidade com o que ele já conhece e não são, de qualquer modo, estranhos
para ele. Então, sem ser ele mesmo um clarividente, ele pode acumular uma
grande quantidade de evidências da existência de planos superiores. De fato,
sua posição comparada com a do cético é tal qual a dos que primeiro acreditaram
na teoria heliocêntrica em contraposição àqueles que acreditavam na Terra plana
e fixa. Aqueles que sustentavam esta última idéia tornaram-se mais e mais confusos
à medida que adquiriam mais informações; quanto mais aprendiam sobre os
movimentos dos diferentes planetas e estrelas, mais desesperada a confusão se
tornava; ao passo que uma vez compreendido o fato fundamental dos movimentos da
Terra, tudo imediatamente entrou em seu devido lugar e foi visto como parte de
um todo coerente e compreensível. Cada fragmento adicional de evidência não é
meramente uma adição para a força da prova como um todo, mas na verdade uma
multiplicação dela.
Todas as teorias
do homem sobre a Deidade podem ser classificadas sob três categorias: ou Ela é
indiferente a nós, ou Ela é ativamente hostil a nós e precisa ser propiciada,
ou Ela é plena de amor e boa vontade para conosco. Se Deus for indiferente a
nós, se Ele nos trouxe à existência por um simples capricho, ou se surgimos
fortuitamente como o resultado da operação cega de leis naturais, isso seria
para nós, para todas intenções e propósitos, como se não existisse
absolutamente nenhum Deus.
Esta crença,
obviamente, não tem nenhuma teoria coerente do universo para nos oferecer –
nenhum plano e, conseqüentemente, nenhuma esperança de qualquer objetivo final
que possa justificar ou dar razão para nossa existência. Muitos, no passado,
sustentaram esta crença desconfortante e é mesmo possível que haja alguns que a
sustentem atualmente. Parece inconcebível que alguém possa desejar sustentá-la, porém alguns podem imaginar-se forçados a
fazê-lo porque consideram que falte suficiente evidência em contrário. O
estudante de Teosofia sabe que tal prova em contrário existe, e existe em
quantidade esmagadora; porém como muito dela depende de evidência clarividente,
o homem que desejar examiná-la terá de satisfazer-se considerando a
possibilidade da clarividência existir.
A segunda teoria,
– de que Deus é caprichoso ou hostil ao homem – tem sido amplamente sustentada.
O homem imagina Deus como o mais elevado que ele pode conceber; mas o mais
elevado que ele pode conceber é, freqüentemente, apenas uma edição glorificada
e intensificada de si mesmo. Conseqüentemente, quando as nações estão no
estágio rude, belicoso e violento que acompanha os primeiros passos de seu
desenvolvimento, elas usualmente providenciam para si mesmas um deus que é um
homem guerreiro e que lutará por elas contra seus inimigos. Tal deus é
comumente considerado capaz de ira e grande crueldade e, por isso, precisa de
propiciação a fim de se evitar que ele libere suas paixões violentas sobre seus
infelizes devotos. Todas as religiões que oferecem qualquer tipo de sacrifício
a Deus pertencem a esta categoria, porque em todos os casos a idéia subjacente
ao sacrifício é a de que: ou por meio desta oferenda possa-se agradar a Deidade
e induzi-La a fazer em troca alguma benevolência que, caso contrário, Ela não
faria; ou então que por meio desta oferenda Ela seja subornada a não fazer
algum mal que, caso contrário, Ela faria. O Iahweh judaico foi, obviamente, uma
Deidade deste tipo, e a influência perniciosa desta idéia de propiciação que se
permitiu ser estendida até o Cristianismo, e é responsável pela assombrosa e
certamente blasfema distorção da bela e inspiradora narrativa da descida da
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade na matéria.
Portanto, aqueles
que não compreendem o verdadeiro significado de seu credo são impelidos à
insustentável posição de que Deus, em uma forma, sacrifica a si mesmo para
propiciar Deus em uma outra forma, a fim de impedi-Lo de perpetrar crueldades
incríveis para com suas criaturas; e mesmo este sacrifício tremendo e incrível
é representado como sendo mais do que
eficaz para que apenas uma irrisória fração da humanidade seja, no final de
tudo, redimida por tal sacrifício. A absoluta impossibilidade de uma teoria tão
monstruosa escapa à observação daqueles que pensam acreditar nela, apenas
porque nunca ousaram realmente encará-la, mas tomam sua declaração por certa
como parte de um sistema teológico que se supõe existir absolutamente fora da
esfera da razão e do bom senso. Esta segunda forma de crença normalmente
envolve uma teoria do universo de que ele existe para um certo objetivo, mas
construído de maneira tão defeituosa que falha quase completamente em sua
intenção original, e assegura a felicidade permanente apenas a uma pequena
proporção de seus habitantes – e mesmo assim na suposição notável de que eles
seriam, de algum modo, capazes de esquecer o pavoroso destino que alcança a
grande massa da humanidade.
A terceira teoria
– de que Deus é amor, e que todo o seu poderoso universo está se movimentando
firmemente na direção de um determinado objetivo final de unidade consciente
com Ele – é a única que pode ser aceita pelo estudante teosófico. O ilimitado
amor da Deidade é o próprio fundamento do ponto de vista teosófico. Nem
sacrifícios, nem oferendas, nem preces poderiam ser necessários ao Deus que é o
Pai amantíssimo de todos os seus filhos, e já está fazendo por eles muito mais
do que eles poderiam pedir, muito mais do que eles podem conceber. Tudo o que
Lhe podemos oferecer em retribuição é o nosso amor e o nosso serviço, e o nosso
amor é a própria manifestação de Deus dentro de nós, de tal modo que a única
ação de nossa parte, que pode ser concebida como prazerosa para Ele, é aquela
que permite cada vez mais ao Deus interno manifestar a si mesmo através de
nós. Esta me parece ser a maior de todas
as verdades – a verdade da qual tudo mais depende.
Quando um homem é completamente permeado pela
absoluta certeza do amor eterno e da justiça absoluta, ele descobrirá, a partir
daí, como um fato básico, todos os outros fatos na Natureza gradualmente se
alinhando e ocupando seus próprios lugares. Algum tipo de problema advém a cada
ser humano, e por causa disso o homem é às vezes tentado a crer que algo está
errado – que deve haver uma falha em algum lugar e de algum modo na operação do
esquema divino. Este erro é natural; mas ainda assim é um erro, e o homem que o
comete está na posição do chefe africano que se recusava a acreditar que a água
alguma vez pudesse se tornar sólida, porque ele nunca tinha visto um exemplo
desse fenômeno.
Para o estudante
mediano, esta certeza chega somente como resultado da convicção intelectual de
que deve ser assim – que a evidência a favor dela é mais forte do que a
oferecida contra ela. O clarividente tem a enorme vantagem de poder ver nos
planos superiores evidências muito mais definidas do curso das grandes forças
que estão operando através e ao redor da humanidade. Vendo apenas a vida
física, um homem tem uma visão distorcida e se ele é por natureza hipocondríaco
poderá projetar e manter uma visão pessimista da vida, mas aquele que pode ver
além do plano físico está por isso capacitado para avaliar as coisas de modo
mais aproximado de seu valor real, compreendê-las em perspectiva e ver suas
proporções relativas. Assim, em poder desse conhecimento superior mais elevado
ele é capaz de dizer com certeza que ele sabe
que as grandes forças que nos rodeiam estão tendendo, finalmente, para o bem.
Muito daquilo que é temporariamente o mal surge, e tem necessariamente de
surgir, da dádiva ao homem mesmo de uma pequena quantidade de livre-arbítrio.
Mas todo o mal é apenas parcial ou transitório, e seus efeitos são todos
arrastados ao longo da poderosa corrente da evolução, exatamente como os
pequenos redemoinhos e contracorrentes da superfície de uma ruidosa torrente
são, contudo, arrastados adiante no seu curso em direção ao mar.
Quando um homem
está plenamente convencido de que essa é a lei universal, ele é capaz de
avaliar, em seu verdadeiro valor, as pequenas divergências aparentes dessa lei
que ele encontra na vida diária. Seus próprios problemas e dificuldades, por
sua proximidade, parecem grandes para dele, mas o conhecimento teosófico
habilita-o a elevar-se acima deles e olhar de cima para eles, de um ponto de
vista superior, de modo que ele possa ver suas verdadeiras proporções. Ele, de
modo nenhum, deixa de compadecer-se de um indivíduo que está sofrendo
temporariamente; porém ele não pode ser oprimido pelo sofrimento, porque ele vê
além do sofrimento o seu resultado, além do pesar a meta de eterna alegria.
Todos os problemas são para ele necessariamente evanescentes, como os
desconfortos de uma viagem. Eles são sem dúvida desgostosos e reais enquanto
duram, mas o homem os encara precisamente porque deseja chegar ao destino da
viagem. Para o verdadeiro teósofo, portanto, a depressão é uma impossibilidade;
ele a considera não apenas como uma fraqueza, porém como um crime, porque, como
dissemos antes, ele sabe que ela contamina aqueles ao seu redor, e os detém em
seu progresso na senda ascendente.
Ele sabe que é
inútil e tolo queixar-se daquilo que lhe acontece, por mais desagradável que
seja. Não poderia ter acontecido a ele,
a menos que o tenha merecido, e, conseqüentemente, ele considera isso como o
pagamento de uma dívida que tem de ser afastada do caminho antes que um progresso
ulterior possa ser feito. Ele não se queixa das deficiências e fraquezas que
encontra em si mesmo, porque sabe que foi ele e ninguém mais que o fez tal como
ele é, e que é ele e ninguém mais quem pode transformá-lo no que ele desejaria
ser. Ele sabe que tem toda a eternidade diante de si para vencer as suas
dificuldades, e por isso ele sabe com absoluta certeza que tais dificuldades serão vencidas, por mais insuperáveis
que elas possam parecer sob seu atual ponto de vista.
Ele sabe que
qualquer mal que tenha praticado no passado deve, apesar de tudo, ter sido
finito em sua extensão e, conseqüentemente, seus resultados também deverão ser
finitos; enquanto que ele próprio é uma força viva de infinitas possibilidades
capaz de absorver ilimitadamente da Divindade da qual ele é uma expressão. A
atitude do teósofo é, então, uma de
perfeita confiança e de perfeita filosofia, e o objetivo de sua vida é
tornar-se, na máxima extensão de sua capacidade, um cooperador3 da
Deidade. Desempenhando este papel, ele não pode ser senão um homem feliz,
porque ele se sente uno com a Deidade, que é felicidade. Se ele puder apenas
reconhecer que toda a Natureza é a vestimenta de Deus, ele será capaz de ver
nela sua beleza e glória ocultas. Tudo isso poderá ser dele, mas somente sob a
condição de que ele realmente viva sua Teosofia, que ele permita que ela o
permeie e o inspire. Sabeis como nos tem sido dito que aquele que deseja
trilhar a Senda deve se tornar ele mesmo a própria Senda, o que significa que
trilhá-la deve se tornar tão absolutamente natural para ele que não possa
fazê-lo de outro modo. Um homem pode estar intelectualmente convencido da
verdade do ensinamento teosófico, embora saiba que de muitas maneiras ele não
alcançou a sua plena realização, mas o homem que é capaz de viver o ensinamento
obtém muito mais do que a convicção intelectual; por sua própria experiência,
cresce dentro dele uma certeza e um conhecimento vivos de sua verdade, que
nunca poderão ser abalados. Aqueles que fazem a vontade do Pai que está nos
Céus, conhecerão a doutrina como verdadeira. Somente vivendo a vida teosófica
alcançar-se-á a verdadeira atitude teosófica.
(Extraído da
revista The Theosophist, de Março de 1914.)
Tradução:
Maurilena Ohana Pinto, MST
Loja “Annie
Besant”, Belém, PA
Revisão Técnica:
Ricardo Lindemann
Loja “Dharma”,
Porto Alegre, RS .
Notas:
1 -É com grande
honra que a presidência da Sociedade Teosófica no Brasil cede o espaço de seu
editorial para o eminente teósofo C. W. Leadbeater, visando suscitar uma
investigação e profunda reflexão sobre o que é a verdadeira Atitude Teosófica.
2.- O Sr. Charles
Webster Leadbeater (1847-1934) foi um devotado membro da Sociedade
Teosófica. Recebeu, a partir de
31/10/1884, três cartas do Mestre K.H., que foram publicadas pelo Sr. C.
Jinarajadasa (Cartas dos Mestres de
Sabedoria. Brasília, Ed. Teosofica, 1996. Cartas 7, 8 e 37 da I Série). Foi
treinado em ocultismo pela Sra. H. P. Blavatsky, Sr. T. Subba Row e pelo menos
dois Mestres de Sabedoria, tendo desenvolvido notavelmente a clarividência. Foi
autor de numerosas obras, a maioria com os relatos das suas investigações
clarividentes.
Em 1908, publicou A Química Oculta, em
co-autoria com a Dra. Annie Besant, que vem sendo reeditada desde então [Occcult Chemistry. Madras, The Theosophical Publishing House (TPH), 1994.]. Nesta obra de investigação
clarividente sobre a matéria e suas dimensões mais sutis, ele se antecipa à
Ciência contemporânea de tal modo, quando descreve o átomo e suas partículas
subatômicas, que até hoje cientistas renomados têm feito comentários sobre sua
surpreendente precisão na pesquisa clarividente (vide PHILLIPS, S.M., Ph.D. Extra-Sensory Perception of Quarks.TPH,
1980. PHILLIPS, S.M., Ph.D.. Evidence of a Yogic Siddhi - Anima: Remote
Viewing of Subatomic Particles. TPH,1996. ARNIKAR, H. J., Ph.D. Essentials of Occult Chemistry and Modern
Science. TPH, 2000. SRINIVASAN, M., Ph.D. Introduction to ‘Occult Chemistry’; The Amazing Phenomenon of
Extra-Sensory Perception of Nuclear Structure and Subatomic Particles. TPH,
2002.)
Em 1909,
descobriu clarividentemente o talento do Sr. Jiddu Krishnamurti, apesar de sua
aparência, então um menino de 13 anos,”esquelético, subnutrido, coberto de
picadas de mosquito, com piolhos até nas sobrancelhas, dentes cariados...”(cfe.
LUTYENS, Mary. Vida e Morte de Krishnamurti. Brasília, Ed. Teosófica, 1996.
p.29.), tendo auxiliado em sua educação.
Em 1913, também em co-autoria com Dra. Besant,
publicou O Homem: donde e como veio e para onde vai?(São Paulo,
Ed. Pensamento, 1993.) onde previu com sua clarividência a Internet ( Op. Cit.,
p .318), a unificação da Europa (p. 333) e o surgimento da sexta raça-raiz no
Século XXVII, na Califórnia (p.265).
O Sr. Leadbeater chegou a ser Bispo-Presidente
da Igreja Católica Liberal de 1923 a 1934, quando através de sua pesquisa
clarividente na história do Cristianismo descreveu fatos da vida de Jesus que
foram encontrar respaldo arqueológico somente na descoberta dos papiros do Mar
Morto em 1947 (vide LEADBEATER. A Gnose
Cristã. Brasília, Ed. Teosófica, 1994. p. 119).
Numa etapa delicada da sua vida, na qual foi
tratado de maneira muito injusta, o Sr. Leadbeater foi levado a renunciar à
Sociedade Teosófica, em 1906. O Presidente Fundador da Sociedade, Cel. H. S.
Olcott, porém, recebeu em seu leito de morte a visita dos Mestres M. e K. H.
que agradeceram a dedicação de sua vida à causa teosófica, mas alertaram-no que
no caso do Sr. Leadbeater havia sido cometida uma injustiça. O Cel. Olcott
prontamente redigiu uma carta solicitando o retorno do Sr. Leadbeater, que
reingressou, em 1908, continuando com fidelidade o seu trabalho teosófico até o
final de a sua existência, em 1934.
3 – Co-worker with the Deity, no original em
inglês, significando literalmente:
“co-trabalhador” com a Deidade. (N.R.)
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