PRÓLOGO
Conheço várias pessoas adoráveis, sinceramente
engajadas na busca espiritual. Algumas participam de vários grupos de
estudo, cura e meditação, e dedicam de uma a duas horas por dia a seus
'decretos' e práticas espirituais ditadas pelos "Mestres
Ascensos." Tocado pela dedicação e candor dessas pessoas, comecei a
pesquisar a respeito dessas doutrinas e práticas que, obviamente, parecem
estar fazendo bem a elas. Com todo o respeito e carinho, gostaria de
oferecer as observações e considerações a seguir a essas pessoas queridas e
a milhares de outros irmãos devotos dos Mestres. Procurei enfocar a questão
de forma objetiva, apresentando considerações e sugestões que poderiam ser
investigadas por esses sinceros buscadores da verdade.
CONHECIMENTO DOS MESTRES
Até meados do século XIX muito pouco era
conhecido no Ocidente sobre os Grandes Seres, chamados no Oriente de Mahatmas,
ou Mestres de Sabedoria. No Oriente, principalmente na Índia, os Mestres já
eram conhecidos há milênios nos meios dos devotos e iogues. No Ocidente, no
entanto, somente uns poucos discípulos aceitos conheciam seus Mestres,
guardando essa informação de forma reservada, por respeito a estes Santos
Seres e para a proteção deles.
Foi somente a partir do final do século XIX,
com a fundação da Sociedade Teosófica e posteriormente com a divulgação dos
escritos de H. P. Blavatsky, que o conhecimento da existência dos Mestres
se espalhou nos meios esotéricos e filosóficos na Europa e nas Américas.
Alguns colaboradores de Blavatsky foram contrários a essa divulgação, em
virtude da tradicional reserva observada pelos discípulos com relação a
comentários públicos sobre a existência de seus instrutores. Mas os tempos
eram outros e os próprios Mestres contribuíram indiretamente para que sua
existência fosse amplamente divulgada no Ocidente.
AS CARTAS DOS MESTRES
O principal meio de divulgação da existência e
do trabalho dos Mestres foi a publicação, no início do século XX, de uma
longa série de cartas escritas pelos Mestres,[2][2]
entre 1880 a 1886, a dois ingleses, A. O. Hume e A. P. Sinnett, sendo a
maior parte dirigida a esse último. Sinnett, mais tarde, utilizou o
material contido nas cartas para escrever dois livros muito comentados na
época: Budismo Esotérico e Mundo Oculto. Os Mestres também
enviaram cartas, em menor número, a outros colaboradores seus, sendo muitas
destas coligidas e publicadas por C. Jinarajadasa, com o título de Cartas
dos Mestres de Sabedoria.[3]
[3].
Essas cartas são marcos para o estabelecimento
de parâmetros sobre os ensinamentos desses Grandes Seres e para o
conhecimento de seus métodos de comunicação com aqueles poucos aspirantes
que apesar de não terem sido treinados no caminho ocultista, de alguma
forma mereceram recebê-las. Seu valor especial está no fato de serem
reconhecidas por quase todos os estudiosos como sendo de autoria dos
Mestres. Algumas foram recebidas poucos instantes depois de terem sido
"enviadas" por Sinnett, no próprio verso do papel em que as
perguntas tinham sido feitas. É importante frisar que a maioria das cartas
foi precipitada. O Mahatma K. H. respondendo a Sinnett sobre esse
processo disse: "Devo pensar bem, fotografando cuidadosamente cada
palavra e frase no meu cérebro antes que possa ser repetida por
'precipitação'."[4][4] Blavatsky comentou sobre esse
processo que: "O trabalho de escrever as cartas em questão é efetuado
por um tipo de telegrafia psíquica; os Mahatmas raramente escrevem suas
cartas da forma usual. Uma conexão eletromagnética, por assim dizer, existe
no plano psíquico entre um Mahatma e seus chelas, um dos quais age como seu
secretário."[5][5] O curioso é que, não importa qual
chela venha a escrever manualmente a carta, a letra será sempre exatamente
a do Mestre. Um fato que ainda não foi explicado pela ciência moderna é
como a tinta foi colocada, não na superfície do papel, mas no seu interior.
Permanece inexplicável, também, como estrias, feitas com a mesma tinta com
que a carta foi escrita, foram incorporadas a espaços regulares no papel.
Esses e muitos outros detalhes técnicos foram estudados em profundidade por
um dos maiores especialistas em grafologia e falsificações, Vernon
Harrison,[6][6] gerente de pesquisas da Thomas De
La Rue (equivalente à Casa da Moeda Britânica). Essas cartas encontram-se
no Museu Britânico.
A Summit Lighthouse, uma das principais fontes
de canalização de mensagens atribuídas aos Mestres Ascensos, confirma a
existência e autenticidade destas cartas: "a fundação da Sociedade
Teosófica deve-se aos Mestres Morya e Koot Hoomi, que a utilizaram para
difundir seus ensinamentos para o Ocidente, em parte por meio de cartas
pessoais dirigidas a um punhado de alunos teosóficos.” [7]
[7].
Apesar do interesse de Sinnett em tornar-se um
discípulo aceito do Mestre Koot Hoomi, geralmente referido como K. H., seu
principal correspondente, foi-lhe dito que ele não tinha os requisitos para
ser um discípulo, ou chela, como são conhecidos na Índia. Seus
hábitos de vida e, principalmente, seus condicionamentos mentais, militavam
contra a simplicidade e disciplina necessárias à vida de um chela.
Sem essa disciplina e reorientação de vida, seria impossível para ele
passar nos duros testes a que todos os discípulos são submetidos.[8][8] Noutra ocasião, explicando a
natureza do treinamento dos discípulos e como eles deviam arcar com as
consequências de seu carma, disse: "Não guiamos nunca nossos chelas
(mesmo os mais avançados) nem os advertimos previamente, deixando que os
efeitos produzidos pelas causas que eles próprios criaram, lhe ensinem pela
melhor experiência."[9][9] Ao solicitar uma comunicação
direta com o Mestre sem comprometer-se a nenhuma mudança em sua vida,
recebeu como resposta: "Aquele que quiser erguer alto a bandeira do
misticismo e proclamar que o seu reino está próximo tem que dar o exemplo
aos outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus próprios modos
de vida."[10][10]
OUTRAS FONTES DE INFORMAÇÕES SOBRE OS MESTRES
A partir de então, a literatura esotérica em
geral e a teosófica em particular, passou a referir-se extensamente aos
Mestres. Informações esparsas divulgadas por alguns de seus discípulos eram
repetidas nos círculos esotéricos, nem sempre com a exatidão devida,
contribuindo para a criação de certas lendas e imagens distorcidas sobre
esses Grandes Seres. Esta situação foi amenizada a partir de 1925, com a
publicação do livro, Os Mestres e a Senda. Seu autor, C. W.
Leadbeater era discípulo do Mestre K. H. Leadbeater conhecia pessoalmente
seu Mestre bem como alguns outros membros da Grande Hierarquia Branca, como
a Fraternidade destes Grandes Seres é geralmente conhecida. A obra ajudou a
colocar muitos fatos em perspectiva. Leadbeater era um vidente avançado,
conseguindo comunicar-se com vários Mestres, tanto no plano físico como em
outros planos. Por ser um discípulo Iniciado, teve acesso direto a um
grande número de informações até então desconhecidas no Ocidente. Dentre as
revelações de seu livro vale a pena mencionar a estrutura da hierarquia dos
Mahatmas, seu modo de operação no mundo e seu processo de treinamento de
discípulos.
Por outro lado, várias entidades do astral
começaram a enviar mensagens atribuídas aos Mestres. Essas comunicações
geralmente oferecem mensagens calcadas em palavras de solidariedade humana
e amor ao próximo. Muitas chamam a atenção para uma eminente crise que
deverá se abater sobre nosso planeta se os homens não se regenerarem e
atenderem aos apelos dos Mestres para uma mudança de vida. Para aqueles que
conhecem a literatura espírita, essas comunicações atribuídas aos Mestres
guardam um estreito paralelo com as comunicações de entidades
desencarnadas, os "espíritos", que desde o século XIX vêm sendo
recebidas por intermédio de médiuns em diversos países.
Em virtude do teor aparentemente benéfico
dessas comunicações, muitas pessoas poderiam questionar, por que nos
preocuparmos com a autoria dessas mensagens. Se elas estão estimulando as
pessoas para uma vida mais ética e amorosa, o que importa se essa atribuição
aos Mestres é correta ou não? Devemos nos lembrar que o objetivo da vida
espiritual é o conhecimento da verdade, objetivo esse indicado por Jesus
quando nos disse: "Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará." (Jo 8:32) Mas não é só isso. Apesar do teor
adocicado das mensagens em pauta, elas trazem em seu bojo três grandes
perigos de distorção: sobre a maneira como os Mestres atuam no mundo, a
natureza do progresso espiritual dos discípulos e alguns aspectos da vida
oculta.
RELACIONAMENTO E COMUNICAÇÃO ENTRE
MESTRE E DISCÍPULO
Em primeiro lugar, a atribuição dessas
mensagens aos Mestres cria uma ideia errônea sobre o método de operação dos
Mahatmas no mundo. Provavelmente ainda são válidas as palavras do Mestre K.
H. enviadas a Sinnett e aos teosofistas europeus no século XIX:
"Nenhum de vocês jamais conseguiu formar uma ideia acurada dos
'Mestres' ou das leis do Ocultismo pelas quais eles são guiados.” [11] [11] Os Mestres sempre indicaram
que sua latitude para ação no mundo material é consideravelmente limitada e
que agem, via de regra, por meio de seus discípulos no mundo e não por meio
de comunicações bombásticas ou de fenômenos paranormais, geralmente
chamados de milagres.
Isso ficou claro no caso clássico de Sinnett
que, ao longo de sua extensa correspondência, instou os Mestres a
demonstrarem cabalmente ao mundo sua existência por meio de algum fenômeno
incontestável, como a materialização de um exemplar do jornal The
Pioneer em Londres, no mesmo dia de sua publicação na Índia, e do Times
em Simla, na Índia, no mesmo dia de sua publicação em Londres, o que, em
virtude dos meios de transporte da época, esse feito seria um verdadeiro
"milagre." O Mestre K. H. pacientemente explicou a Sinnett:
"Justamente porque o teste com o jornal de Londres fecharia a boca dos
céticos – ele é impensável... A verdade é que nós trabalhamos usando leis e
meios naturais e não sobrenaturais... Você diz que metade de Londres seria
convertida se você pudesse entregar ao público de lá o jornal Pioneer
no mesmo dia da sua publicação. Permita-me dizer que, se as pessoas
acreditassem que a coisa era verdadeira, elas o matariam antes que pudesse
dar uma volta no Hyde Park, e se elas não acreditassem o mínimo que
poderia acontecer seria a perda da sua reputação e de seu bom nome, por
propagar tais ideias[12] [12]." O Mestre continuou a
carta por várias páginas, apresentando seus argumentos com extrema
sabedoria e lucidez, provando a Sinnett que a experiência milenar da
Fraternidade comprova que a humanidade sempre resiste aos fenômenos que não
consegue explicar, endeusando ou matando aqueles que os apresentam.
Os Mestres, portanto, agem no mundo através de
seus discípulos. Projetos, mensagens ou ações que desejam realizar para a
humanidade são efetuados por seus colaboradores no mundo material, sendo
atribuídos a esses colaboradores. Esse é um ponto básico, como podemos
verificar com obras 'inspiradas' como Luz no Caminho, A Doutrina
Secreta e tantas outras, que são sempre publicadas em nome do
discípulo. O Mestre solicita ou inspira seu discípulo a agir da forma
desejada. Mas, deve ficar claro aqui, que o Mestre quando muito solicita,
sem jamais atropelar ou forçar o livre arbítrio do ser humano. Os irmãos
das trevas agem de forma diferente, manipulando, hipnotizando ou forçando
as pessoas, de uma forma ou outra, sem respeitar sua vontade própria.[13][13] Para os agentes das trevas os
fins justificam os meios, para os Seres de Luz isso seria inadmissível.
Dentro desses parâmetros, e levando em conta a
experiência dos membros da Fraternidade, acumulada ao longo de inúmeros
milênios de atuação no mundo, os Mestres sabem exatamente o que pode ser
feito e o que deve ser feito para ajudar cada indivíduo no seu estágio
atual de evolução. Jamais agem baseados em personalismos e preferências,
mas sempre de acordo com os méritos das pessoas, de suas condições cármicas
e das oportunidades para estender o maior benefício ao maior número
possível de pessoas, por meio das ações a serem realizadas por seus
colaboradores no mundo.
Quando estudamos o maravilhoso trabalho dos
Mestres, podemos imaginar que o mundo seria totalmente diferente se uma
grande parte da humanidade conhecesse esses Grandes Seres. Isso nos levaria
a pensar que um movimento de conscientização popular do trabalho dos
Mestres poderia ser um grande facilitador para a evolução. Somos
informados, porém, que justamente o contrário é verdadeiro. A última carta
escrita pelo Mestre K.H, em 1900, a Annie Besant, então Presidente da
Sociedade Teosófica, urgia ação muito específica a esse respeito:
"Muito poucos são aqueles que podem saber qualquer coisa a nosso
respeito... O falatório acerca dos 'Mestres' deve ser silenciosa, mas
firmemente eliminado. Que a devoção e o serviço sejam somente para aquele
Supremo Espírito, do qual cada um é uma parte. Nós trabalhamos anônima e
silenciosamente, e a contínua referência a nós mesmos e a repetição de
nossos nomes gera uma aura confusa que atrapalha nosso trabalho.” [14] [14].
MÉTODOS DE COMUNICAÇÃO DOS MESTRES
Convém esclarecer os métodos conhecidos pelos
quais os Mestres capacitam seus discípulos a transmitir informações e
ensinamentos ao mundo. A tradição esotérica sugere que os Mestres
geralmente usam dois métodos para transmitir informações que gostariam de
divulgar à humanidade. No caso de uma obra que no atual estágio evolutivo
da humanidade pode agora ser divulgada, mas que deve ser transmitida
absolutamente sem erros, geralmente imprimem telepaticamente o texto na
mente do discípulo para que esse, por sua vez, possa escrevê-lo de forma
correta. Esse parece ter sido o caso da obra Luz no Caminho, escrita
por Mabel Collins no século XIX. De acordo com Leadbeater, em casos
excepcionais, os Mestres podem até ditar a mensagem a ser transmitida:
"Há casos, em que uma incumbência de grande importância é ditada
palavra por palavra, e anotada no plano físico, na hora, pelo
recipiendário, mas tais casos são sumamente raros.” [15]
[15].
O outro método, geralmente usado com discípulos
mais avançados, é a transmissão telepática de informações, conceitos e
ideias, deixando por conta do discípulo a formulação do texto final de
acordo com seus dons intelectuais e literários. Essas transmissões
geralmente ocorrem no plano mental abstrato ou no búdico (intuitivo).
Lembramos que nos planos superiores, as comunicações não são realizadas por
palavras, como em nosso mundo. Os conceitos são expressos de uma forma
simbólica sintética, e devem ser "decodificados" ou
"traduzidos" em palavras, pela mente concreta, para serem
inteligíveis em nosso plano.
Um exemplo clássico das comunicações por meio
de discípulos avançados é o conhecido trabalho de Blavatsky A Doutrina
Secreta. Ela era capaz de recolher informações dos registros
akáshicos, ler à distância textos que se encontravam em outros lugares
(como na biblioteca secreta do Vaticano) e receber comunicações de
diferentes Mestres colaborando na obra. Porém, a tarefa não era meramente a
de receber um ditado, mas sim a de compor, com suas próprias palavras o
texto a ser produzido. A Condessa de Wachtmeister, sua companheira
constante durante o período em que escreveu A Doutrina Secreta,
relata que, um dia: "... ao entrar no gabinete de Blavatsky, encontrei
o chão coberto de folhas manuscritas. Perguntei a razão desse aspecto de
confusão e ela respondeu: - Sim, tentei doze vezes escrever esta página
corretamente e toda vez o Mestre diz que está errado. Acho que vou ficar
louca, escrevendo-a tantas vezes; mas deixe-me sozinha; não descansarei
enquanto não o conseguir, ainda que tenha de ficar aqui a noite toda. Uma
hora mais tarde ouvi sua voz me chamando e, ao entrar, verifiquei que
havia, finalmente, concluído o trecho e de maneira satisfatória.” [16] [16].
COMUNICAÇÕES CANALIZADAS ATRIBUÍDAS
AOS MESTRES
A principal consideração que nos levou a
alertar os estudantes de ocultismo para o perigo dessas comunicações,
apesar de seu caráter aparentemente beneficente, é o fato de elas conterem
muitas distorções e, até mesmo, erros factuais e conceituais. Isso sugere
que a grande maioria, se não a quase totalidade dessas mensagens
provavelmente não é de autoria dos Mestres. Numa de suas cartas, K. H.
disse a Sinnett que não era possível a comunicação com ele por meio de
médiuns. "Você quer saber por que é considerado extremamente difícil,
se não completamente impossível para os Espíritos puros desencarnados
se comunicarem com os homens através de médiuns ou Fantasmasofia. Eu
digo que é: (a) devido às atmosferas antagônicas que envolvem
respectivamente esses mundos; (b) por causa da diferença extrema que há
entre as condições fisiológicas e espirituais; e (c) porque essa cadeia de
mundos sobre a qual falei a você não é somente um epiciclóide, mas uma
órbita elíptica de existências, tendo como toda elipse não um, mas dois
pontos, dois focos, que nunca podem se aproximar um do outro. O
homem está em um dos focos, e o Espírito puro no outro.” [17] [17].
Em outras palavras, as entidades do astral não
são confiáveis como instrutores. Com exceção dos pouquíssimos Nirmanakayas[18]
[18] que atuam no astral para o benefício daqueles que estão de
passagem naquele plano, a grande maioria dos habitantes do astral que
enviam mensagens para pessoas encarnadas por intermédio de médiuns, já
perderam seus princípios superiores e estão em processo de decomposição. No
entanto, devido às características especiais daquele plano, essas
entidades, melhor conhecidas como cascões, ou cadáveres astrais, retêm
parte de sua memória passada e podem, além disso, entrar em sintonia com as
emoções e pensamentos das pessoas envolvidas na sessão mediúnica. Por essa
razão podem enviar mensagens baseadas em sua memória do passado bem como no
conhecimento atual dos encarnados que participam da sessão. Por isso, as
mensagens tendem a refletir a expectativa dos recipiendários, sendo
geralmente aceitas, apesar de não acrescentarem nada de novo em termos de
ensinamentos.
O Mestre K. H., respondendo a uma pergunta de
Sinnett, que sempre mostrou grande interesse pelos processos mediúnicos,
alertou: "Naquele mundo (o astral), meu bom amigo, nós só encontramos
máquinas ex-humanas, inconscientes e autômatas; almas em estado de
transição, cujas faculdades e individualidades adormecidas estão como uma
borboleta em sua crisálida; e os Espíritas esperam que elas falem com
sensatez! Colhidas em certas ocasiões pelo vórtice da corrente anormal "mediúnica",
elas se tornam ecos inconscientes de pensamentos e ideias cristalizadas em
volta dos que estão presentes. "[19]
[19].
Em inúmeras ocasiões os Mestres alertaram seus
correspondentes sobre os perigos das comunicações mediúnicas em geral, e da
virtual impossibilidade deste meio ser utilizado pelos Adeptos para suas
comunicações com seus colaboradores. Porém, deixaram claro que muitas
comunicações espúrias do astral seriam atribuídas a eles. "Pode
ocorrer que em função de objetivos próprios nossos médiuns e seus fantasmas
sejam deixados à vontade e livres não só para personificar os
"Irmãos", mas até mesmo para forjar nossa letra manuscrita. “[20] [20] Esse ponto deve ser levado em
consideração nas mensagens atribuídas aos Mestres. Todos os grandes
reformadores espirituais alertam para esse fato. Jesus, por exemplo, disse:
"Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados de
ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes" (Mt 7:15).
Examinemos, agora, algumas das distorções e
erros apresentados em certas comunicações atribuídas aos Mestres. Uma das
mais citadas e que provocou considerável impacto nos meios esotéricos foram
às obras de Alice A. Bailey. Ao longo de quase trinta anos (1922 a 1949),
Alice Bailey produziu 24 obras, sendo 18 delas atribuídas a uma entidade,
por muito tempo referida simplesmente como "O Tibetano". Nos
últimos anos de suas atividades literárias Bailey deixou escapar, ou deu a
conhecer, os fatos não são muito claros, que "O Tibetano" era o
Mestre Djwal Khul, que havia ajudado o Mestre K. H. no trabalho da
Sociedade Teosófica no século XIX. Alice Bailey tinha uma mente brilhante e
destacou-se rapidamente nos meios teosóficos, chegando a atuar como
coordenadora da sessão esotérica da Sociedade Teosófica nos Estados Unidos.
Acabou deixando a S. T. para fundar sua Escola Arcana, que ministrava por
correspondência ensinamentos esotéricos, baseados nas instruções atribuídas
ao Tibetano.
Suas obras, escritas num estilo literário um
tanto convoluto, que tornava os assuntos tratados muito mais complicados e
aparentemente mais profundos, exerceram grande influência nos meios
esotéricos, sendo muito citadas. Com a repetição das citações as
informações apresentadas em suas obras foram adquirindo uma aura de
respeitabilidade inquestionável. Os estudantes de esoterismo que são
submetidos a esse bombardeio de informações de fontes aparentemente
fidedignas, depois de certo tempo, têm dificuldade para separar o joio do
trigo.
O autor deste ensaio pode falar sobre esta
questão com conhecimento de causa, pois foi estudante da Escola Arcana por
cerca de cinco anos, recebendo o material de instrução diretamente da sede
da Escola em Nova Iorque. Se por um lado o material era atraente em vista
da profusão de informações de cunho esotérico, continha vários pontos que
pareciam questionáveis.
Só consegui livrar-me do terrível emaranhado de
dúvidas e questionamentos em que estava enredado, quando vim, a saber, que
Alice Bailey somente teria tido inspiração do Mestre Djwal Khul para suas
três primeiras obras: Cartas sobre Meditação Ocultista, Iniciação Humana
e Solar, e Tratado sobre Fogo Cósmico. A ajuda e inspiração
interior do Mestre Djwal Khul lhe teria sido retirada pelo fato de usar
aquelas obras e as atividades da Escola Arcana para propagar suas idéias e
preconceitos religiosos adquiridos na infância e durante os anos em que
trabalhou como evangelizadora da Igreja Anglicana na Inglaterra, Irlanda e
Índia [21] [21].
Bailey acreditava literalmente no retorno de
Cristo para o estabelecimento de Seu Reino na Terra por mil anos. Esse foi
o principal ponto que teria provocado a ruptura com seu Instrutor, a
insistência em seus livros e palestras de que toda a Hierarquia estava
engajada no trabalho de preparação para o "iminente retorno do
Cristo". Apesar de aproximadamente oitenta anos terem se passado desde
que começou a pregar sobre o "iminente" retorno, a chegada de
Cristo em nosso sofrido planeta ainda é uma promessa a ser cumprida, pelo
menos no sentido em que sempre foi entendida pelos fundamentalistas, ou
seja, de forma corpórea e com toda Sua glória externa. Com a retirada da
inspiração do Mestre Djwal Khul, não se sabe que entidade apareceu para
ocupar o vazio criado na comunicação psíquica de Alice Bailey, mas seus
livros subsequentes indicam certa mudança de estilo e passaram a apresentar
cada vez mais detalhes curiosos sobre a vida esotérica e o trabalho da
Hierarquia.
OS MESTRES "ASCENSOS"
A partir da década de trinta, do século XX,
começou a aparecer um tipo especial de comunicação canalizada, dessa vez
referindo-se aos Mestres "Ascensos". Ao que tudo indica, essas
comunicações começaram com as mensagens transmitidas por intermédio de Guy
Ballard. As comunicações de Ballard começam com os detalhes do que teria
sido seu primeiro encontro com o Mestre Saint Germain, no Monte Shasta, na Califórnia.
Informou que de lá foi levado em seu corpo sutil, pelo Mestre, ao retiro de
Monte Teton, escondido dentro daquela montanha em Wyoming, EUA. A partir de
então suas experiências foram relatadas em diversos livros, como: Mistérios
Desvelados, A Presença Mágica, Os Discursos EU SOU, Instruções de um Mestre
Ascenso e O Amado Saint Germain Fala. Por ocasião de sua morte,
no Retiro de Royal Teton, teria finalmente ascendido, passando a ser
conhecido como o amado Mestre Ascenso Godfre.
O trabalho de Ballard parece ter aberto a caixa
de Pandora de onde saíram uma infinidade de outras comunicações atribuídas
aos Mestres Ascensos. Uma busca na internet revelará a variedade de
materiais existentes sobre esse assunto. Essas comunicações foram
"canalizadas" não só por sensitivos americanos, mas também de
outros países, inclusive do Brasil. Seria impossível, dentro do escopo
deste ensaio, tentar apresentar algo do trabalho de todos esses sensitivos
ou mesmo dos mais representativos. Procuraremos, no entanto, apresentar as
linhas gerais dos ensinamentos transmitidos por esses diferentes canais,
pois guardam considerável semelhança.
Antes, seria útil mencionar alguns dos grupos
ou movimentos criados em função dessas comunicações. Os mais conhecidos
são:
· O Movimento EU SOU
· Ponte para a Liberdade
· Vahali
· Fraternidade Pax Universal
· Centro Lusitano de Unificação Cultural
· Fraternidade dos Guardiões da Chama
· A Fundação Saint Germain
· O Templo da Presença
· Fundação para o Ensinamento do Mestre Ascenso
· The Summit Lighthouse.
Vale mencionar que, após as comunicações de Ballard,
talvez os movimentos com maior repercussão tenham sido a Ponte para a
Liberdade e a Summit Lighthouse (Farol do Cume), ambos fundados nos Estados
Unidos, passando a atuar em vários países, inclusive no Brasil. Parte das
informações sobre esses grupos apresentadas a seguir, em forma resumida,
foi retirada de folhetos, páginas da net e livros da Summit Lighthouse do
Brasil.
Em primeiro lugar, o que é um Mestre Ascenso?
Um Mestre Ascenso seria um iniciado que alcançou a Sexta Iniciação que,
para esses grupos, é tida como a Iniciação equivalente na tradição cristã à
Ascensão de Cristo aos Céus para ficar à direita do Pai. De acordo com essa
linha, a Primeira Iniciação seria simbolizada pelo Nascimento do Cristo, a
Segunda pelo Seu Batismo, a Terceira pela Transfiguração, a Quarta pela
Crucificação, a Quinta pela Ressurreição e a Sexta pela Ascensão. Parece
ter havido certa confusão nesta codificação das iniciações. Até a Terceira,
as Iniciações como simbolizadas pela vida de Cristo conferem com a visão de
outros autores.[22] [22] As diferenças aparecem a
partir da Quarta Iniciação, já que os eventos da Crucificação e da
Ressurreição, que para a linha dos Mestres Ascensos constituiriam
iniciações separadas, sempre foram considerados pelos estudiosos do Cristianismo
Esotérico como dois aspectos da mesma iniciação. "Na simbologia cristã
a Quarta Iniciação está representada pelas angústias sofridas no horto de
Gethsêmane, a crucificação e ressurreição de Cristo.” [23][23]
A crucificação e a ressurreição representariam, assim, os dois lados da
mesma moeda, ou seja, a morte do homem velho e o nascimento do homem novo
de que fala Paulo. A tradição dos Mistérios egípcios descrevia essa
Iniciação ocorrendo numa cripta. Nela, o candidato era atado sobre uma cruz
de madeira, induzido a um transe profundo, equivalente à morte, descendo
então aos mundos inferiores em seus corpos sutis, para finalmente ser
desperto, ou "ressuscitado" pelo Hierofante no terceiro dia.
A Quinta Iniciação, de acordo com a tradição
esotérica, constituiria a última iniciação do ciclo humano. A partir de
então, os Adeptos passam a trilhar uma nova Senda, incompreensível para a
nossa experiência humana. Nas palavras de Leadbeater, "O Adepto
realizou o propósito através daquilo que o fez homem, e assim dá agora o
passo final que o torna Super homem – Ashekha, como o chamam os
budistas, pois ele nada mais tem a aprender e exauriu as possibilidades do
reino humano da natureza... No simbolismo cristão, a Quinta Iniciação é
representada pela Ascensão de Cristo e a vinda do Espírito Santo em línguas
de fogo, que corresponde à entrada no Adeptado, porque o Adepto ascende a
uma esfera superior à humanidade e muito além da terra.” [24][24]
As comunicações dos Mestres Ascensos contêm
incontáveis detalhes sobre a vida dos Mestres, suas encarnações anteriores,
os retiros onde vivem os projetos em que estão engajados, e os dons e
poderes divinos que operam em prol da realização do grande plano divino. O
estudante de esoterismo não cessa de se maravilhar com as informações de
caráter oculto oferecidas. As mudanças na estrutura da Hierarquia são
relatadas em todos seus detalhes. Somos informados que Sanat Kumara, o
Senhor do Mundo, foi convencido a deixar seu posto supremo na Hierarquia,
em favor do Senhor Buda. Com isso várias mudanças ocorreram na estrutura
hierárquica.
"Em 1º de janeiro de 1956, numa cerimônia
realizada no Retiro de Royal Teton (de forma surpreendente nos Estados
Unidos e não em seu tradicional reduto nas regiões transhimalaias), Gautama
sucedeu a Sanat Kumara no cargo de Senhor do Mundo e Maitreya sucedeu a
Gautama nos cargos de Cristo Cósmico e Buda Planetário, passando o manto de
Instrutor do Mundo aos candidatos a esse cargo, Jesus Cristo e
Kuthumi." Parece estranho que agora existam dois Instrutores do
Mundo, sendo um, o Mestre Jesus, do Sexto Raio, apesar desse cargo ser
sempre ocupado por um Mestre do Segundo Raio, pois esse reflete a energia
divina utilizada nessa função. Com isso outros espaços teriam sido abertos
nos cargos de Chohans dos Raios. O Mestre Ascenso Lanto teria assumido o
cargo de Chohan do Segundo Raio. Somos informados que Lanto "alcançou
sua mestria quando estudava sob a orientação do Senhor Himalaia, Manu da
Quarta Raça Raiz, cujo Retiro do Lótus Azul está escondido nas montanhas
que levam o seu nome." Outra promoção relatada é a da Mestre Ascensa
Nada, que assumiu o Sexto Raio, com a transferência de Jesus, conjuntamente
com Koot Hoomi, para o cargo de Instrutor do Mundo.
Ao que parece, a Hierarquia passou, no século
XX, a refletir nos planos espirituais os anseios de melhor
representatividade de sexos e raças da era atual. Além da Mestra Ascensa
Nada, somos informados que a Mestra Ascensa Kwan Yin, que teria precedido o
Mestre Ascenso Saint Germain como Chohan do Sétimo Raio, tornou-se um dos
sete Mestres Ascensos que atuam no Conselho do Carma, trazendo assim um
melhor equilíbrio para a polaridade negativa na dispensação da misericórdia
e justiça divina. Até a minoria negra (nas Américas, onde foram feitas
essas revelações), obteve uma fatia do poder. "O Mestre Ascenso Afra
tornou-se o primeiro Mestre Ascenso da África, passando a ser o patrono da
África e da raça negra." Por outro lado, o caráter predominante
anglo-saxão da Hierarquia fica patente pelos cabelos louros dos Mestres nas
fotografias que são apresentadas no livro: Senhores dos Sete Raios
de Mark e Elizabeth Prophet, e nas páginas da WEB da Summit Lighthouse do
Brasil. Aparecem com cabelos louros: Jesus, Paulo Veneziano, Saint Germain,
Nada e Maria mãe de Jesus. Uma última curiosidade: provavelmente refletindo
o axioma hermético de que o que está em baixo é como o que está em cima,
encontramos na Hierarquia um misterioso ser descrito como K-17, que seria o
Diretor do Serviço Secreto Cósmico. [25]
[25]
Com a entrada da Era de Aquário, os Mestres
teriam informado que uma aceleração estaria ocorrendo no processo evolutivo
da humanidade. Para ajudar nessa aceleração a Mestre Ascensa Nada teria
concedido a dispensação da Ciência da Palavra Falada e o Mestre Ascenso
Saint Germain o poder para toda a humanidade transmutar seu carma negativo
por meio da Chama Violeta. Os procedimentos para a utilização desse novo
instrumental são explicados exaustivamente em inúmeras comunicações de
diferentes Mestres. A ajuda parece ser tão poderosa que o discípulo que
proceder de acordo com as instruções ministradas, poderia
"ascender" numa só vida.
É dito que um discípulo inteiramente dedicado
pode passar da Terceira Iniciação para a Ascensão (Sexta) em seis anos de
vida rigorosamente de acordo com a nova dispensação. A razão pela qual o
Caminho tornou-se tão mais fácil, comparado com o das antigas tradições, é
que com a nova dispensação, "Um Mestre Ascenso precisaria transmutar
ao menos 51 por cento de seu carma e receber as iniciações do Raio Rubi no
ritual da Ascensão."
Os Mestres Ascensos conferem grande atenção à
Ciência da Palavra Falada. Essa ciência ter-se-ia originado no momento da
manifestação do Universo, pois, no princípio "Deus disse: 'Haja luz' e
houve luz" (Gn 1:3). Para esse ato criador Deus não pensou nem
meditou, mas sim disse, 'haja luz'. O poder do Verbo é a energia mais
poderosa de toda a manifestação. Os Mestres Ascensos ajudaram o homem moderno
a "resgatar a Ciência da Palavra Falada, utilizada há 12 mil anos
atrás nos templos sagrados da Lemúria e da Atlântida."[26][26]
A Ciência da Palavra Falada é operacionalizada
por meio de decretos. O homem, a quem Deus outorgou o poder de ser também
um criador, deve ordenar por decreto às hierarquias criadoras, presididas
pelos anjos e arcanjos, especificamente o que deseja realizar. O decreto é,
portanto, "o poder do Verbo na solução de problemas e elevação da
alma." Foi revelado que: "o decreto é a mais poderosa das
petições à Divindade. É uma ordem, proferida pelo filho ou filha de Deus em
nome da Presença do EU SOU e do Cristo, para que a vontade do Todo-Poderoso
seja manifestada, assim em baixo como no alto. É o meio pelo qual o reino
de Deus se torna realidade aqui e agora, usando o poder da Palavra
Falada."[27][27]
Somos informados que o ser humano deve ter fé
no poder dos decretos, pois "A lei cósmica afirma que as idéias
expressas em palavras tornam-se obrigatoriamente realidade quando
são proferidas em nome de Deus e pela autoridade da chama de Cristo."[28][28] Para aumentar o incentivo ao
uso da Ciência da Palavra Falada, o Senhor Maitreya teria anunciado por
ocasião de uma conferência, realizada em Washington, D.C., em 01/07/1961,
que: "De hoje em diante, todo decreto que proferirdes será
multiplicado pelo poder de dez mil vezes dez mil"[29][29], ou seja, será cem milhões de
vezes mais forte.
O outro instrumento utilizado pelos Mestres
Ascensos para acelerar a evolução da humanidade é a utilização da poderosa
energia da chama violeta para a transmutação das negatividades. A esse
respeito os Mestres teriam declarado: "A dispensação permitindo que a
chama violeta fosse posta à disposição dos discípulos neste século foi concedida
pelos Senhores do Carma porque Saint Germain compareceu perante esse
augusto conselho para advogar, como defensor da humanidade, a causa da
liberdade." "A chama violeta perdoa à medida que liberta, consome
à medida que transmuta, elimina os registros do carma do passado (saldando
assim as vossas dívidas para com a vida), uniformiza o fluxo de energias
entre vós e os outros, e impele-vos para os braços do Deus vivente."
"Venho esta noite, em nome de Deus, para declarar a todos os homens
que a vida eterna é mantida pelo poder da chama violeta! Compreendeis o que
isso significa, amados? Significa que o uso da chama violeta e do fogo
sagrado dá a todos os homens o passaporte para a vida eterna, e não há
outro meio de obterem a liberdade."[30][30]
Numa série de comunicações mais recentes, a
Mestra Ascensa Kwan Yin teria concedido à humanidade sofredora um poderoso
método de cura, que veio a ser conhecido como Magnified Healing
(Cura Magnificada). Essa modalidade de cura seria antiquíssima, sendo que
antes de 1983 só era usada nas dimensões superiores pelos Mestres Ascensos.
Em 1992, pela intervenção direta da Mestra Kwan Yin, a Cura Magnificada do
Deus Supremo do Universo teria sido facultada em sua forma expandida para o
avanço espiritual da humanidade e da Terra. Com a disseminação desse
processo de cura, já existem mais de 21 000 iniciados neste método em 52
países.
Magnified Healing foi dispensada originalmente
a duas co-originadoras americanas: Kathryn Anderson e Gisèle King. Kathryn
é uma Ministra Ordenada e mestre em Reiki, sendo uma Instrutora de
instrutores. Gisèle é uma curadora, Ministra-Diretora do Movimento da
Fraternidade Universal e mestre em Reiki.
Kathryn e Gisèle teriam recebido as Chaves
finais da Ascensão aceitando o manto de Instrutoras-Mestras de Magnified
Healing do Deus Supremo do Universo, por meio da Mestra Kwan Yin. A 3ª Fase
do método de Cura da Luz ter-lhes-ia sido dada pelo Arcanjo Melchizedek, no
final do ano de 1996.
AVALIAÇÃO DAS DOUTRINAS E PRÁTICAS
Avaliação é uma coisa séria. Para minimizar os
perigos de possíveis erros de apreciação das práticas e conceitos
apresentados na literatura canalizada sobre os Mestres Ascensos, procurarei
ater-me aos fatos mais relevantes, sobre os quais as informações
disponíveis permitem um nível aceitável de segurança nessa avaliação.
Em primeiro lugar, os seguidores dos Mestres
Ascensos enfatizam práticas exteriores em detrimento da interiorização.
Para entendermos o perigo dessa distorção devemos recordar que os dois
esteios da vida espiritual são a autotransformação e a sintonia crescente
com Deus. Para isso é indispensável a introspecção, ou seja, a mudança de
foco do exterior para o interior. A auto-análise e a meditação são as
práticas mais usadas para esses fins. Os seguidores dos Mestres Ascensos,
no entanto, devotam horas às práticas externas sobrando pouco tempo,
entusiasmo e convicção para as práticas internas, principalmente a
meditação. Leadbeater, em suas considerações sobre o caminho iniciático,
indica que um dos três obstáculos para a Segunda Iniciação é a superstição,
que "inclui todas as espécies de crenças irracionais e errôneas, entre
elas a de que os ritos e cerimônias externas são necessários para a
purificação do coração. O Iniciado verifica que todos os métodos que nos
são oferecidos pelas grandes religiões, tais como orações, sacramentos,
peregrinações, jejuns e a observância de múltiplos ritos e cerimônias, não
passam de meios auxiliares, e o homem prudente adotará disso o que ele
achar útil para si, porém jamais considerará qualquer deles como suficiente
para alcançar a salvação. Ele sabe definitivamente que tem de buscar a
libertação em seu interior."[31][31]
A Ciência da Palavra Falada é a principal
prática espiritual dos seguidores desse movimento. Realmente o Som, também
referido como o Verbo, o Logos e a Palavra, é a energia mais poderosa do
Universo. No entanto, o Som primordial, que deu início à manifestação do
Universo, não pode ser tomado como uma palavra pronunciada por Deus, no
sentido em que nós humanos a utilizamos no plano físico. Na realidade, Deus
não é uma pessoa com boca e cordas vocais que pronuncia essa ou aquela
palavra. Portanto, quando é mencionado em Gênesis que Deus disse:
"Haja luz", algo simbólico está sendo comunicado a nós seres
humanos, incapazes que somos de alcançar com nossa limitada mente concreta
o que ocorreu no Imanifestado ao gerar o mais elevado plano espiritual da
manifestação. Naquele momento, a ordem divina "ecoou" numa
dimensão do espaço inteiramente diferente do nosso mundo, fazendo com que a
vibração repercutisse de uma forma tal, que nós só poderíamos concebê-la,
em termos de nossa experiência, chamando-a de Palavra de Deus. Reiteramos
que quando tomamos as passagens da Bíblia em seu sentido literal estamos
sujeitos a tirar conclusões inteiramente errôneas. Todas as escrituras
sagradas são coletâneas de ensinamentos profundos velados pela linguagem da
alegoria e do símbolo.[32][32]
Em alguns casos encontramos distorções sutis,
como na mensagem a seguir, atribuída ao Senhor Maitreya: "Vários
sistemas de meditação ióguica oferecem métodos para acalmar a mente do
homem e produzir uma maior sintonia com o Divino. Alguns desses métodos
tornaram-se arriscados quando aplicados pelo homem ocidental, pois exigem
do praticante uma grande disciplina mental e espiritual. Os decretos, por
outro lado, são relativamente simples de dominar uma vez compreendidos os
princípios básicos, e muito mais eficazes."
Os métodos ióguicos "arriscados" são
aqueles que envolvem a movimentação de energias, como o pranayama, o
laya ioga, o kundalini ioga e o tantra ioga. No entanto, a sabedoria
milenar, conhecendo esses perigos, estabeleceu a tradição de só transmitir
a totalidade da prática por meio de um guru devidamente capacitado, que
acompanha os primeiros exercícios de seu discípulo para assegurar que eles
sejam realizados de forma correta e em segurança. Ainda que alguns livros
pareçam ensinar algumas dessas práticas, ficam faltando sempre alguns
passos fundamentais que só são transmitidos de boca a ouvido.
Também não nos parece correta a afirmação de
que o decreto seja a forma mais elevada de comunicação com Deus, como
sugerido na seguinte passagem: "Essa ciência milenar (a Ciência da
Palavra Falada) combina oração, meditação e visualização com decretos
poderosos – e é um avanço em relação a todas as formas de oração usadas no
Oriente e no Ocidente." Os verdadeiros iogues e os místicos de todas
as tradições sabem, por experiência própria, que justamente o oposto é
correto. A oração falada sempre foi considerada a mais simples de todas as
preces. A mais poderosa é a oração do silêncio, ou contemplação, em que o
silêncio se estende até mesmo à mente. Os místicos conseguem por meio da
contemplação alcançar a união com O Bem Amado, como descrito na obra
clássica Castelo Interior ou Moradas, de Teresa de Ávila.[33][33] Esse também é o propósito
central do ioga, a aquietação dos processos mentais, descrita na celebrada
obra Ioga Sutras de Patanjali,[34][34]
para que o iogue alcance o samadhi, ou união com Atma.
"Deus é silêncio em vez de discurso. A coisa mais bela que o homem
pode dizer de Deus é que, conhecendo Suas riquezas interiores ele torna-se
silencioso. Portanto, não seja tagarela com Deus."[35][35]
Muitos cristãos surpreendem-se ao saber que a
"oração do silêncio" foi ensinada por Jesus, há dois mil anos,
como atesta a passagem: "Tu, porém, quando orares, entra no teu
quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e
o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará" (Mt 6:6). Como a
linguagem da Bíblia é simbólica, a seguinte interpretação é sugerida:
entrar em nosso quarto, significa entrar em consciência na câmara secreta
do coração. Fechar a porta, significa desligar-se dos ruídos do mundo e da
mente. Orar ao Pai que lá se encontra, significa nos sintonizarmos com a
Presença de EU SOU em nosso coração. Orar em segredo, significa aquietar a
mente e permitir que no silêncio que se segue, possamos ouvir a Deus, e não
nossas próprias palavras e pensamentos. Finalmente, a recompensa prometida,
é sermos admitidos à Sua Presença.
Quanto à prática de repetição de decretos em
voz alta, talvez outra orientação de Jesus apresentada no Sermão da Montanha
seja pertinente: "Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como
os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão
ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes
necessidade antes de lho pedirdes." (Mt 6:7-8).
As várias mudanças na Hierarquia anunciadas nas
comunicações atribuídas aos Mestres Ascensos poderiam ser questionadas, a
começar pela suposta renúncia de Sanat Kumara de seu posto de Senhor do
Mundo. A tradição sabedoria ensina que esse grande Ser comprometeu-se a
guiar a humanidade por todo o período de manifestação da Terra, como chefe
da hierarquia espiritual de nosso Planeta e Iniciador Único. Encontramos em
A Doutrina Secreta que esse augusto Ser "não deixará o seu
posto senão no último dia deste Ciclo de Vida."[36][36]
É importante lembrar que o Senhor do Mundo
expressa o aspecto poder (Primeiro Raio) do Logos em nosso Planeta, e o
Senhor Buda o aspecto sabedoria (Segundo Raio). Se, porventura, o Senhor do
Mundo deixasse seu cargo seu sucessor seria um Adepto do Primeiro Raio e
não o Senhor Buda. Como todas as outras mudanças anunciadas na estrutura da
Hierarquia dependem da veracidade da renúncia de Sanat Kumara a seu posto,
achamos mais pertinente não tecermos argumentos sobre as outras mudanças subseqüentes,
apesar de existirem claros indícios de que as coisas permanecem na
Hierarquia como eram há um século atrás. Mudanças na Hierarquia são muito
raras, especialmente nos mais altos níveis, onde um Grande Ser pode ocupar
um posto por muitos milênios. Essa questão, não só é difícil de resolver
com provas cabais, como é ainda, de certa forma, irrelevante para a vida
espiritual. Nosso progresso espiritual não depende em absoluto de nos
mantermos atualizados sobre as supostas novidades em Shambala.[37][37]
O aspirante deve se concentrar na
autotransformação e em dar o passo seguinte na Senda, e não em gastar o
precioso tempo que a Providência Divina lhe concedeu em especulações sobre
a vida dos Grandes Seres. Vale a pena lembrarmos mais uma vez a recomendação
do Mestre K.H., em sua última carta escrita em 1900: "O falatório
acerca dos 'Mestres' deve ser silenciosa mas firmemente eliminado. Nós
trabalhamos anônima e silenciosamente, e a contínua referência a nós mesmos
e a repetição de nossos nomes gera uma aura confusa que atrapalha nosso
trabalho."[38][38] Encontramos na tradição
judaico-cristã um paralelo nos mandamentos apresentados por Moisés:
"Não pronunciarás em vão o nome de Iahweh teu Deus" (Ex 20:7).
Talvez seja pertinente, porém, algumas
observações sobre alguns membros da Hierarquia, mencionados na literatura
dos Mestres Ascensos. Os novos Chohans que teriam assumido o Segundo e o
Sexto Raio, os Mestres Ascensos Lanto e Nada, não são conhecidos na
literatura esotérica tradicional, sendo mencionados pela primeira vez nas
canalizações atribuídas aos Mestres Ascensos. No caso de Saint Germain e
Kwan Yin os questionamentos são de outra natureza. É dito que Kwan Yin
precedeu a Saint Germain como Chohan do Sétimo Raio e que essa
transferência de cargo deu-se em 1954.[39][39]
No entanto, na obra Os Mestres e a Senda, publicada pela primeira
vez em 1925, é dito: "O Chefe do Sétimo Raio é o Mestre Conde de Saint
Germain, personagem histórico do século XVIII, também conhecido como o
Mestre Rakoczi."[40][40] Portanto, de acordo com a
tradição oriental, o Conde de Saint Germain já era o Chohan do
Sétimo Raio, bem antes de 1954, quando, de acordo com a literatura dos
Mestres Ascensos, ele teria supostamente assumido essa alta função.
Com relação à Mestre Ascensa Kwan Yin, o
problema é a personificação antropomórfica de um princípio impessoal.
Kwan-Shi-Yin e Kwan-Yin, são nomes chinêses para os aspectos masculino e
feminino de Avalokiteshvara. De acordo com A Doutrina Secreta:
"Kwan-Shi-Yin é Avalokiteshvara, e ambos são formas do Sétimo
Princípio Universal; enquanto que em seu caráter metafísico mais elevado,
essa Divindade é a agregação sintética de todos os Espíritos Planetários,
os Dhyan-Chohans. Ele é o 'Manifestado por Si Mesmo'; numa palavra, o
'Filho do Pai'."[41][41] Não podemos descartar a
possibilidade de que tenha existido um Grande Ser, coincidentemente na
China, chamada de Kwan Yin, que tenha se tornado um Mestre de Sabedoria. No
entanto, em nenhuma parte da literatura esotérica, antes do aparecimento
das revelações atribuídas aos Mestres Ascensos, qualquer referência foi
feita a essa personagem. Ao contrário, Kwan Yin sempre representou um
princípio e não uma pessoa.
A outra prática central atribuída aos Mestres
Ascensos é a transmutação do carma por meio da chama violeta, de acordo com
o ministério do Mestre Ascenso Saint Germain. Muitos decretos e rituais de
cura estão voltados para esse fim. Em primeiro lugar, convém investigarmos
o método pelo qual esse procedimento teria se tornado possível. Numa
citação anterior, de material canalizado pela Summit Lighthouse, foi dito:
"A dispensação permitindo que a chama violeta fosse posta à disposição
dos discípulos neste século foi concedida pelos Senhores do Carma porque
Saint Germain compareceu perante esse augusto conselho para advogar, como
defensor da humanidade, a causa da liberdade." Em primeiro lugar, os
Senhores do Carma, ou Lipikas, os "escribas" que registram
todas as palavras e ações dos homens nesta Terra, como são conhecidos na
literatura esotérica, "são os agentes do carma"[42][42] e não membros de um suposto
conselho do carma. O carma sendo uma lei fundamental e inexorável da
operação da manifestação não está sujeito a "deliberações" de um
conselho. Tampouco os Mestres agem como políticos, de forma emotiva visando
o impacto popular, procurando modificar uma lei irrevogável
"advogando, como defensores da humanidade, a causa da liberdade."
A transmutação, porém, é uma realidade
conhecida da alquimia. Como Saint Germain foi o maior alquimista conhecido,
é natural que os rituais de transmutação sejam sempre referidos a Ele,
principalmente quando é utilizada a chama violeta, instrumento de trabalho
notório do Sétimo Raio. No entanto, existe uma grande diferença entre
transmutar as negatividades de um indivíduo e transmutar seu carma. Quando
falamos de transmutar negatividades, estamos nos referindo às tendências da
natureza inferior da pessoa. Essas tendências, skandas de acordo com
os budistas ou samskaras de acordo com os hinduístas, são os tiranos
que escravizam os homens numa roda viva de repetições de atos, palavras e
pensamentos negativos, que necessariamente resultam em sofrimento.
Mas transmutação de carma é outro departamento.
O carma é uma das leis fundamentais do universo e, como tal, é imutável.
Imaginemos, por exemplo, outra lei do universo, a da gravitação. O que iria
ocorrer se um Grande Ser decidisse alterar um pouco a gravitação do planeta
Terra, para que ele ficasse mais perto do Astro Rei, o Sol? Ou ainda acelerar
ou retardar um pouco a rotação da Terra ao redor de seu eixo? Por pouco que
fosse a alteração, o resultado seria uma catástrofe indescritível. Uma lei
divina universal é, por definição, tautologicamente, universal e eterna.
Não pode ser alterada.
Blavatsky afirma categoricamente que: "Os
Mahatmas são os servos, não os árbitros da Lei do Carma."[43][43] Vemos nas Cartas dos Mahatmas
várias passagens indicando a imutabilidade do carma: "A justiça
absoluta não vê diferença entre os muitos e os poucos... Em nossa
Fraternidade todas as personalidades submergem em uma idéia – o direito
abstrato e a justiça prática absoluta para todos."[44][44]
"Não podemos alterar o Carma, meu 'bom amigo', de outro modo nós
dissiparíamos a nuvem atual que há sobre seu caminho. Mas fazemos tudo o
que é possível nestas questões materiais."[45][45]
"A vida e a luta pelo Adeptado seriam muito fáceis, se tivéssemos
sempre varredores atrás de nós a limpar os efeitos por nós gerados
em nossa inconsideração e presunção."[46][46]
"Tendes especialmente de conservar em mente que a mais leve causa
produzida, embora inconscientemente, e seja qual for seu motivo, não pode
ser desfeita nem os efeitos detidos em seu progresso, nem mesmo por um
milhão de Deuses, demônios e homens combinados."[47][47]
Podemos em sã consciência imaginar que os sábios membros dessa
Fraternidade, tendo afirmado de forma tão contundente a imutabilidade do
carma, iriam mudar de idéia alguns anos mais tarde e passar a 'varrer atrás
de seus devotos os efeitos gerados por seu carma?', ou 'transmutar as
causas produzidas e seus efeitos, que nem mesmo um milhão de Deuses,
demônios e homens combinados podiam desfazer?'
Jesus também pregou a imutabilidade do carma.
Algumas passagens da Bíblia atestam esse fato, na linguagem simbólica que
lhe é usual: "Porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a
terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei (do carma),
sem que tudo seja realizado" (Mt 5:18). "Assume logo uma atitude
conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para
não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz, ao oficial de
justiça, e, assim, sejas lançado na prisão (da roda de renascimentos).
Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último
centavo" (Mt 5:25-26). "Tudo aquilo, portanto, que quereis que os
homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a lei e os (ensinamentos
dos) profetas" (Mt 7:12). Paulo também reiterou esse ponto
fundamental da vida espiritual em várias passagens, sendo a mais direta:
"Não vos iludais: de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso
colherá" (Gl 6:7).
A imutabilidade do carma coloca em cheque todas
as reivindicações de práticas que prometem a transmutação parcial ou total
do carma. A repetição de decretos e o processo de cura de Magnified Healing
enquadram-se nessa categoria. Magnified Healing é certamente uma poderosa
energia de cura. Tendo recebido algumas aplicações dessa energia, posso
afirmar que senti a energia atuando em meu corpo. Tudo leva a crer que
Magnified Healing poderia ser considerado um "super-Reiki" ou
"Reiki magnificado." Essa hipótese ganha força quando verificamos
que as duas americanas disseminadoras originais do processo já eram mestras
de Reiki por muitos anos. Ainda que Magnified Healing seja comprovadamente
uma poderosa energia de cura, atuando sobre os corpos sutis do ser humano,
as considerações expostas acima, sobre a imutabilidade do carma como uma
lei universal, põem em questionamento a reivindicação de que a dimensão
espiritual dessa energia também poderia transmutar o carma do
"paciente." É interessante notar que a aplicação dessa energia,
dispensada pelo 'Deus Supremo do Universo,' pode ser cobrada dos
"pacientes," em contraste com a antiga lei oculta de que as
energias espirituais não podem ser objeto de comercio. Nesse particular
nossos irmãos espíritas são mais coerentes: os 'passes', a participação em
rituais de cura e até mesmo as operações espirituais não são cobradas,
ainda que os beneficiários possam contribuir de livre e espontânea vontade
para a manutenção da obra. O estudante de esoterismo teria muito a aprender
sobre essa questão em Palmelo, cidade goiana onde existem dezenas de
indivíduos e instituições voltados para a cura espiritual.
Voltando ao carma, a Lei divina estabelece que
a semeadura é opcional, mas a colheita é obrigatória. Mesmo os chelas
e iniciados estão sujeitos à Lei. Isso nos remete ao ponto seguinte, a
suposta aceleração do processo evolutivo, possibilitando a um discípulo
tornar-se um Mestre Ascenso transmutando somente 51 por cento de seu carma.
A milenar tradição esotérica postula que, para
receber a Quarta Iniciação, o Iniciado tem que quitar todo seu carma
pendente. Essa é a razão porque alguns neófitos estranham o fato de certos
santos e notórios servidores da humanidade, que ao longo da vida mostraram
desprendimento, sabedoria, amor ao próximo e bondade para com todos os
seres, sofrerem todo tipo de infortúnio, doenças e até mesmo perseguições.
Talvez um ou dois exemplos facilitem o entendimento da Grande Lei. O
saudoso Chico Xavier passou a vida fazendo o bem, mas foi várias vezes
injuriado e durante toda a sua vida sofreu de uma ou outra doença. Com seu
conhecido bom humor, dizia que, apesar de uma vida celibatária, sempre foi
assediado por duas senhoras: Glaucoma e Angina, que não lhe deixavam em paz
(com terríveis dores nos olhos e no coração).
A indômita Helena Blavatsky renunciou a tudo
para viver exclusivamente a serviço do mundo, tendo sido difamada,
injuriada e passado por necessidades materiais e enfermidades dolorosas,
permanecendo, porém, sempre firme no serviço de seu Mestre. Dois fatos
relacionados à imutabilidade do carma aparecem de forma curiosa na vida de
Blavastky. Numa batalha pela unificação da Itália, recebeu um tiro, ficando
a bala alojada perto da coluna, causando-lhe dores e desconforto. Apesar
dos médicos não poderem retirar a bala ela, com seus poderes ocultistas,
poderia desmaterializar o projétil. No entanto, não tinha permissão para
faze-lo, pois estaria infringindo a lei do carma e usando poderes ocultos
em benefício próprio. Num determinado momento enquanto estava trabalhando
na sua grande obra, A Doutrina Secreta, seu corpo combalido não dava
mais sinais de resistir aos inúmeros problemas de saúde que enfrentava. O
médico que a acompanhava já dava como certa a sua morte. Nesse instante,
porém, seu Mestre apareceu em corpo físico e perguntou se ela queria por um
fim ao seu sofrimento ou preferia continuar a viver para terminar seu
trabalho. Blavatsky não hesitou em decidir pela continuação do trabalho.
Seu Mestre, então, reanimou seu corpo dando-lhe uma sobrevida, porém, sem
curar as doenças que tinha, ou seja, sem mudar seu carma.
A única explicação para essas aparentes
incoerências do carma, nos casos de Chico Xavier, Blavatsky e tantos outros
servidores da humanidade, é o fato de que esses grandes iniciados estariam
resgatando o restante de seu carma ainda pendente de vidas passadas, para
capacitá-los à Quarta Iniciação, que os tornariam Arhats, seres que
não mais precisam encarnar, se optarem por entrar em Nirvana. A vida de
sofrimento dos candidatos à Quarta Iniciação é, certamente, equivalente a
uma verdadeira "crucificação" ainda que, no seu devido tempo, as
atribulações sejam substituídas pela glória da "ressurreição."
A possibilidade de uma aceleração no processo
evolutivo por meio de certas práticas é, sem dúvida, um grande incentivo
para qualquer aspirante. No entanto, o famoso Caminho Acelerado de que
trata a tradição esotérica, é o árduo Caminho da Iniciação, para o qual existem
regras milenares rígidas seguidas pela Grande Hierarquia. A tradição
menciona que o homem passa simbolicamente por 777 encarnações, desde sua
individualização como ser humano até tornar-se um super-homem, um Iniciado
do Quinto Grau, um Mestre de Sabedoria. As primeiras 700 encarnações
simbolizam o longo caminho do homem mundano, materialista, vivendo para a
gratificação dos sentidos. As 70 encarnações seguintes simbolizam o
considerável período de desenvolvimento intelectual e moral, levando ao
despertar espiritual, até tornar-se um discípulo aceito preparando-se para
a Primeira Iniciação. As últimas 7 encarnações simbolizam o Caminho
Acelerado, o número de encarnações necessárias para aquele que "entrou
na corrente" atingir "a outra margem," ou seja, trilhar o
Caminho Iniciático da Primeira à Quinta Iniciação.
Esses números de encarnações, obviamente são
simbólicos. Podem ser mais ou menos, dependendo do empenho de cada alma. O
que é importante é a ordem de grandeza das três grandes etapas: a etapa das
Iniciações representaria um décimo do tempo da etapa de evolução
intelectual e moral, e essa um décimo da etapa da vida do homem comum,
inteiramente mundana, egoísta e materialista.
Em contraste com essa experiência milenar, a
literatura dos Mestres Ascensos acena com uma notável aceleração do
processo. Por exemplo, é dito que o discípulo dedicado pode passar da
Terceira Iniciação para a Ascensão em seis anos de trabalho intenso. Somos
informados, também, que os principais "canais" desses movimentos,
chamados de "mensageiros dos Mestres" teriam alcançado a
Ascensão, ou seja a Sexta Iniciação, enquanto se supõe que Blavatsky e
Chico Xavier não alcançaram mais do que a Quarta Iniciação. Guy Ballard
teria se tornado o Mestre Ascenso Godfre e Mark Prophet o Mestre Ascenso
Lanello.
Espera-se que um ser que "ascendeu"
tenha tido uma longa série de encarnações à serviço da humanidade. Esse
parece ter sido o caso dos dois grandes mensageiros dos Mestres Ascensos.
Ballard relatou ter-se encarnado anteriormente como George Washington, e os
reis da Inglaterra Henrique V e Ricardo I (Ricardo Coração de Leão). No
caso de Mark Prophet, sua viúva informa-nos que em vidas passadas ele teria
sido: Noé, Ló, Ikhnaton, Esopo, o discípulo Marcos, Orígenes, Lancelote,
Bodhidharma, Saladino, Boaventura, Luís XIV e Longfellow.
Obviamente não nos compete questionar a nobre
linhagem desses mensageiros dos Mestres Ascensos, pois não temos
credenciais para tanto. No entanto, devemos lembrar que o Noé da Bíblia é
um personagem mítico. Ele representa o poder criativo masculino, sendo
também a personificação de um dos dez Sephiroth.[48][48]
Nas palavras de Geoffrey Hodson: "Noé é a personificação do ocupante
de uma Função (Manu) no Governo Espiritual dos Sistemas Solares,
Cadeias, Rondas, Planetas e Raças. Noé representa mais especialmente os Manus
Raiz e Semente, cuja vocação é de absorver e preservar dentro de suas auras
(arcas), durante os Pralayas (dilúvio), as sementes das coisas vivas
e as Mônadas dos homens. Essas eles entregam aos seus sucessores no início
do Manvantara seguinte (a dispensação após o dilúvio)."[49][49]
È provável, portanto, que tenha havido um
engano nas informações canalizadas por Elizabeth Prophet. Não é possível
que Mark Prophet tenha se encarnado como Noé. É dito que na Hierarquia
Terrena, um Manu é um Iniciado do Sétimo Grau.[50][50]
Portanto, se Mark porventura tivesse sido Noé, teria regredido em vez de
evoluir, pois, após várias encarnações, teria alcançado no século passado
outra vez o nível de um Mestre Ascenso, ou seja a Sexta Iniciação, na
terminologia da Summit Lighthouse. Esse fato levanta uma dúvida: erros
semelhantes também não poderiam ter ocorrido em outras partes do material
canalizado por Elizabeth Prophet e pelos outros mensageiros dos Mestres
Ascensos? Nesse caso, que grau de confiança podemos ter no material
canalizado?
CONCLUSÕES
É dito que existem tantos Caminhos como existem
seres humanos e que as necessidades de cada um mudam com o passar do tempo.
Assim como as brincadeiras de criança dão lugar aos esportes e à busca da
sensualidade no adolescente, mais tarde aos jogos de poder no adulto e,
finalmente, no homem maduro ao anseio espiritual, assim também, o buscador
da verdade passa por diferentes etapas em sua jornada. Em cada etapa da
vida teremos novos desafios. Assim como a fruta só aparece na estação
certa, no ser humano o amadurecimento espiritual virá no seu devido tempo,
e a Providência Divina colocará ao nosso alcance as circunstâncias mais
favoráveis ao nosso progresso. Cabe a cada um, porém, discernir o que lhe é
mais apropriado e tomar as ações devidas para aproveitar as oportunidades
ao seu alcance.
Porém, devemos ter sempre em mente que todas as
informações, instruções e revelações do exterior, estejam elas contidas nas
Sagradas Escrituras, livros inspirados, nas palavras de grandes sábios ou
em mensagens canalizadas, são meramente meios para um fim. O objetivo
último de toda a vida espiritual é a experiência interior de unidade com o
Todo e com todos, ou a união com Deus, como dizem os místicos. Nas palavras
de Lama Govinda, "Os instrutores tibetanos sempre enfatizam o fato de
que a verdade última não pode ser expressa em palavras, mas somente
experimentada em nosso interior. Portanto, nossas crenças não são
importantes, mas sim o que nós experimentamos e praticamos, e como isso
afeta a nós mesmos e o ambiente que nos cerca."[51][51]
Aqueles que se sentem confortáveis em sua
tradição ou movimento, nele encontrando tudo o que seu coração pede, devem
aproveitar para mergulhar fundo em seus estudos e, principalmente, em suas
práticas. Devemos ter em mente, porém, que cada um de nós é um diamante em
processo de lapidação. Existem inúmeras facetas dessa pedra preciosa que
precisam ser buriladas. Em geral, precisamos mudar de posição ou a direção
do movimento, para burilar uma nova faceta. Por isso devemos ter em mente a
sabedoria milenar contida na preciosa obra: Luz no Caminho. Nela
somos instados a buscar o caminho: "Busca o caminho, retirando-te para
o interior. Busca o caminho, avançando resolutamente para o exterior.
Busca-o, mas não em uma direção única. Para cada temperamento existe uma
via que parece a mais desejável. Porém, só pela devoção não se encontra o
caminho, nem pela mera contemplação religiosa, nem pelo ardor de progresso,
nem pelo laborioso sacrifício de si mesmo, nem pela estudiosa observação da
vida. Nenhuma dessas coisas por si só faz adiantar ao discípulo mais que um
passo. Todos os degraus são necessários para subir a escada."[52][52]
Por essa razão, convém ao buscador estar sempre
atento a outros enfoques, a outras doutrinas, além daquelas professadas por
sua religião, movimento ou tradição. É dito que uma das melhores maneiras
de entendermos as doutrinas de nossa religião é estudarmos outra religião.
Como estaremos começando do princípio e, no caso da "religião dos
outros," não seremos tolhidos por questões de fé doutrinária, torna-se
mais fácil estudarmos e questionarmos até entendermos os pontos
fundamentais dessa outra religião. Isso invariavelmente nos remeterá a
vários pontos paralelos de nossa própria religião, que anteriormente haviam
sido aceitos mesmo sem ser entendidos. Como todas as religiões originam-se
da mesma fonte e levam ao mesmo objetivo, não é de se estranhar que
venhamos a encontrar inúmeras concordâncias ou paralelos em seus aspectos
fundamentais. A teosofia, a sabedoria divina, é exatamente a essência
esotérica fundamental que está por trás de todas as grandes religiões e
tradições.
Para meus queridos irmãos, seguidores dos
ensinamentos dos Mestres Ascensos, que ainda estão lendo com pertinácia
este ensaio, apesar dos questionamentos levantados, sugiro simplesmente que
procurem ler as cartas dos Mestres publicadas originalmente no século
passado, e disponíveis agora em português.[53][53]
Algumas pessoas talvez prefiram ler inicialmente o livreto: Meditações.
Excertos de Cartas dos Mestres de Sabedoria,[54][54]
que apresenta citações selecionadas, relacionadas com as principais
virtudes requeridas na vida espiritual. Com essa leitura terão um termo de
comparação entre o estilo e a doutrina ensinada pelos Mestres no final do
século XIX e aquela apresentada atualmente pelo material canalizado
atribuído aos Mestres Ascensos. Se esse estudo indicar que não existe
grande diferença entre as duas fontes, então poderão prosseguir com consciência
tranqüila de que estão tomando todos os cuidados possíveis para caminhar
sempre em terreno sólido. Se, no entanto, descobrirem que existem
diferenças importantes de métodos de instrução e de doutrina, terão então
uma oportunidade para desenvolver seu discernimento e testar até que ponto
a intuição é capaz de guiar sua vida.
Não há dúvida de que o anseio por receber
instrução do Mestre é legítimo. Porém não podemos nos esquecer de duas
máximas do ocultismo. A primeira é que: "Quando o discípulo está
pronto o Mestre aparece." Será que realmente estamos prontos para ser
instruídos pelos verdadeiros Mestres? Estamos prontos para enfrentar uma
disciplina de treinamento mais exigente e rigorosa do que a dos atletas
olímpicos, não só por alguns meses ou anos antes da competição, mas por
toda nossa vida? Estamos prontos para assumir o compromisso de servir à
humanidade, sem nenhuma distinção, por séculos e milênios sem fim, até que
o último ser humano seja salvo? Estamos prontos para renunciar ao nosso conforto,
aos nossos interesses pessoais e até mesmo aos nossos bens, para executar o
trabalho do Mestre? Estamos prontos a continuar a servir, mesmo quando
vilipendiados e injuriados? Estamos realmente conscientes de todas as
implicações de nossa eventual aceitação como discípulo do Mestre?
A segunda máxima, uma extensão da lei do carma,
é de que "Cada um tem o Mestre que merece." Somente o próprio
indivíduo pode avaliar o grau de sua pureza de coração, de seu altruísmo,
de sua entrega à Deus, de seu amor incondicional por todos os seres, de sua
humildade e de seu discernimento, para saber que tipo de Mestre ele merece.
O livreto apropriadamente intitulado Aos Pés
do Mestre, de autoria de Krishnamurti, menciona que existem quatro
qualificações para Senda. "A primeira dessas qualificações é o
Discernimento, usualmente tomado no sentido da distinção entre o real e o
irreal, que conduz o homem a entrar na Senda. É isso; mas é também muito
mais, e deve ser praticado não somente no início da Senda, mas a cada passo,
todo o dia, até o fim."[55][55] Os Grandes Instrutores alertam
repetidamente que todo discípulo está se preparando para tornar-se um
Mestre e, portanto, deve desenvolver seu intelecto, percepção e
discernimento ao ponto de jamais ser enganado pelas ilusões do mundo. Se
aspiramos a nos tornar discípulos, devemos também desenvolver o
discernimento, investigando todos os ângulos da doutrina que nos for
apresentada. Essa era uma recomendação constante do Senhor Buda:
submetermos sempre ao crivo da mente e do coração os ensinamentos que nos
são passados pelos sábios e pelas Escrituras, incluindo até mesmo a
doutrina que ele havia ensinado. A fé cega leva ao fanatismo e à
estagnação. A fé consciente, ao contrário, leva ao crescimento e, no seu
devido tempo, à iluminação.
Que a Luz Divina ilumine nossas mentes e
fortaleça a nossa determinação, para que possamos trilhar o árduo Caminho
da Perfeição que leva, no seu devido tempo, aos pés do Mestre.
|