Vegetarianismo é o sistema alimentar que exclui a ingestão de qualquer alimento que implique em tirar a vida de uma criatura do reino animal. Portanto , a nosso ver , a alimentação vegetariana é aquela que não admite a ingestão de corpos de animais , aves e de peixes, admitindo, por sua vez , o consumo de ovos, leite e derivados , exatamente por não haver , neste caso, sacrifício de vida animal.
Uma vez esclarecido o
significado aqui adotado para
vegetarianismo , entendemos que o tema merece ser examinado no mínimo sob três pontos de vista : da biologia , do
cristianismo e do ponto de vista espiritual .
I - A Perspectiva
da Biologia
Sob esse prisma , interessa-nos
a comparação das características anatômicas dos animais carnívoros com as dos
herbívoros. Registre-se que esta abordagem tradicional inclui inúmeros tópicos
, mas aqui trataremos de apenas três :
a)
Todos os animais carnívoros possuem dois pares de dentes especiais,muito
maiores que os outros dentes, que são chamados “presas”. Estas têm a função
de prender e rasgar a carne dos
corpos que lhes serve de alimento. Por
outro lado , os herbívoros não possuem presas , isto é ,todos os seus dentes são do mesmo tamanho, com insignificantes
diferenças. Logo se vê que a Natureza nos construiu semelhantes aos herbívoros
, e claramente distintos dos carnívoros , pois não fomos providos das chamadas
“presas”.
b)
Todos
os carnívoros bebem água lambendo-a com a língua (gato,cachorro, etc.). Ao
contrário, os herbívoros (vaca , cavalo,etc.) ,
e também os humanos , não utilizamos a língua para lamber a água , mas
sorvemos a água , chupando-a para dentro da boca.
c) O intestino dos animais carnívoros
(como o leão,tigre, onça, etc) mede cerca de um metro apenas, e isto é
explicado como uma necessidade do animal expelir rapidamente o que restou da
carne digerida. E faz sentido, porque a putrefação de qualquer organismo , ou
seja , da carne, começa no instante em que a vida dele se vai.
Por outro lado, o intestino dos
animais herbívoros (como o elefante, o boi, o cavalo),são muito mais longos, medindo
entre seis e oito metros aproximadamente , e este comprimento varia com o
tamanho e o peso do animal. É
interessante notar que o intestino humano mede, em média, quatro metros, e
também varia em função da altura e do peso da pessoa. Ou seja, nossos intestinos
são absolutamente diferentes dos intestinos dos animais carnívoros, que
assemelha-se a um tubo reto , curto e grosso. Os intestinos humanos, bem mais
longos e sinuosos, são muito mais parecidos com os intestinos dos herbívoros,
não guardando qualquer semelhança com os intestinos dos animais carnívoros.
Estes são apenas alguns dos fatos
bastante conhecidos e indiscutíveis , entre os inúmeros que a Natureza nos
apresenta,sugerindo que nos coloquemos de acordo com ela: os corpos humanos
foram feitos herbívoros e não carnívoros .
Cumpre acrescentar que este enfoque do
vegetarianismo através da anatomia comparada pode ser bastante ampliado e
aprofundado , mas não cabe fazê-lo neste espaço.
II - A
Perspectiva Bíblica (ou Cristã)
Começando por Gênesis 1:29 :
“Eis que vos tenho dado todas as ervas
que produzem sementes, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como
todas as árvores que dão frutos que dão sementes; isso será vosso alimento”.
Como se percebe, na dieta alimentar
prescrita em Gênesis pelo Criador para os seres humanos, não há uma só
palavra sobre a ingestão de carne.
Entretanto, em LEVÍTICO 11 , a
Bíblia diz :
“Falou o Senhor a Moisés e a Arão,
dizendo-lhes:
dizei aos filhos de Israel: estes são
os quadrúpedes que podereis comer dentre todos os animais que há sobre a terra:
Todo animal que tem casco fendido,
partido em duas unhas e que rumina, esse podereis comer”...
De pronto, verifica-se que a
orientação de Levíticos entra em choque com aquela contida em Gênesis. Como harmonizá-las?
Há uma série de engenhosas
interpretações que sustentam que a permissão para o consumo de carnes contida
em Levíticos foi uma exceção, destinada apenas a resolver uma situação
temporária (o dilúvio), e que, portanto, tal licença teria expirado há muito
tempo.
Sem desmerecer tais interpretações,
preferimos procurar superar este impasse lançando mão de procedimentos mais
práticos e simples. Esse tipo de impasse entre duas orientações contrárias
costuma ocorrer no mundo jurídico, com alguma freqüência. E como os juristas
resolvem tais problemas? Pelo conceito da hierarquia das leis, isto é, buscando
descobrir qual das duas orientações possui mais valor.
No mundo jurídico, as leis são estabelecidas
em ordem decrescente de importância. Seria, grosso modo, da seguinte forma:
1º) A Constituição Federal
2º) Leis Complementares
3º) Leis Federais Ordinárias
4º)Leis Estaduais
5º) Leis Municipais
6º) Decretos
7º) Resoluções,Portarias, etc.
De maneira que, ocorrendo uma
contradição entre dispositivos legais distintos, prevalecerá aquele que estiver
melhor situado na hierarquia das leis, previamente definida e aceita. Nada mais
justo e racional que isto.
Assim, para podermos aplicar este
procedimento ao nosso impasse, temos que procurar a Lei Maior, aquilo que pode
ser considerado a essência, a parte mais importante da Bíblia , ou a sua “Constituição”.
Felizmente, neste caso, a tarefa é
elementar. Desde a mais remota antiguidade, os “Dez Mandamentos” tem sido
reconhecidos como “a lei”. Como
se sabe, o Decálogo foi revelado a
Moisés há vários milênios , e, apesar de alguns duvidarem disso, ele continua
em vigor até hoje. Há inclusive uma
passagem bíblica que registra o expresso referendo do Mestre aos Dez
Mandamentos :
( Mateus 5:17:)” Não penseis que vim
revogar a lei ou os profetas; não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno
cumprimento.”
Portanto, não se discute a supremacia
dos Dez Mandamentos em relação a todos os outros comandos/orientações contidos
na Bíblia.
E o que
diz o sexto mandamento?
“NÃO MATARÁS”. Simplesmente isto.
É preciso que se diga que, frente a
este mandamento, as pessoas geralmente são levadas a pensar que o texto se
refere à matança específica de seres humanos.(Eu mesmo pensei assim até há
poucos anos).
Entretanto, se analisarmos atentamente
este ponto, verificaremos que não está escrito “Não matarás seres humanos”.
O comando da Bíblia é aberto e geral, e não contém nenhuma especificação ou
restrição. Portanto, “NÃO MATARÁS” significa, clara e objetivamente, não
matarás nenhum ser vivo.
Nesse sentido, é bastante razoável
supor que se o Legislador Máximo quisesse prescrever uma conduta em que se
evitasse apenas e tão somente o assassinato de seres humanos, a Lei teria sido
apresentada de outra forma.
Do mesmo modo, não nos parece razoável
supor que Moisés, ou ainda pior, que o próprio Criador tenha Se descuidado no
texto da Sua Lei Magna .
Os juristas referendam o procedimento
aqui aplicado através de um brocardo latino: “UBI LEX NON DISTINGUIT NEC NOS
DISTINGUERE DEBEMUS”
Significa que onde a lei não distingue,
não cabe ao intérprete distinguir (ou especificar). No caso em questão,
significa que se o Legislador Máximo não
especificou o comando , não cabe aos seres humanos restringir o amplo
significado da norma divina.
Na qualidade de Lei Fundamental dentro
do contexto bíblico, o comando encontrado no sexto mandamento, de maneira clara
e insofismável, se sobrepõe e neutraliza as instruções contidas em Levíticos
11, reforçando e fazendo prevalecer
aquelas inicialmente prescritas em Gênesis 1:29.
Em suma, se tivermos a coragem necessária para
alcançar e apreender o verdadeiro espírito, a essência do cristianismo,
chegaremos inexoravelmente ao vegetarianismo , a exemplo do que fez Ellen G. White (fundadora da Igreja
Adventista).
III - A
Perspectiva Espiritual
A rigor, se pudéssemos sintetizar numa
só idéia, qual teria sido a única modificação introduzida por Jesus na antiga
Lei? Sem dúvida foi enfatizar a supremacia da Lei do Amor, com todas as suas
nuances, como a compaixão, misericórdia, a benevolência, a tolerância, etc.(
Vide I Coríntios 13 , de 1 a 13)
E se o Mestre pregou a benevolência, a
misericórdia e o amor até para os culpados e pecadores, como poderia concordar
com o massacre dos seres mais inocentes, como os animais?
Curiosamente, a supremacia moral da
visão compassiva enfatizada pelo Mestre do Amor constituiu novidade apenas para
o Ocidente, pois o conceito de “AHIMSA”
(não violência), já existia e era praticado há muitos milhares de anos no
Oriente.
As pessoas que se tornam vegetarianas
por razões exclusivamente de saúde poderiam retornar à dieta carnívora se as
teorias médicas mudassem. E, como temos visto, elas mudam todos os dias. Assim,
novas idéias poderiam derrotar o ponto de vista “espiritual”, ou compassivo.
Mas nada pode mudar a percepção intuitiva da natureza preciosa da vida, sob
qualquer forma que exista, por mais insignificante que a criatura possa
parecer. Isto inspira na mente, de modo espontâneo, um sentido de cuidado,
carinho e amor por todas as criaturas de Deus.
Os métodos modernos de massacre de
animais e de produção de carne são tão abomináveis que mesmo uma pessoa sem
motivos espirituais para tornar-se vegetariana deveria fazê-lo. Antigamente,
quando as pessoas pensavam em comer carne, matavam o animal. Hoje, os animais
são mortos em massa, e depois se tenta criar um mercado. As pobres criaturas
são mantidas em condições atrozes e antinaturais, miseravelmente confinadas,
alimentadas e medicadas artificialmente, e maltratadas de muitas maneiras
diferentes.
É necessário um coração muito duro
para não ser vegetariano – quando os fatos da produção de carne são conhecidos.
( Se você estiver interessado em aprofundar o entendimento dessas questões ,
sugiro algumas providências bem simples : visite pessoalmente um matadouro
durante sua “operação” comercial ,ou assista
o filme “A CARNE É FRACA” (www.svb.org.br)
, ou ainda, se preferir , acesse o site www.meetyourmeat.com .
Se eu conhecesse estas condições, e
mesmo assim me beneficiasse da dor dos animais criados para a produção de
carne, eu seria muito pouco humano.
Centenas de milhões de pessoas na Índia têm
sido vegetarianas por milênios e infindáveis gerações, sempre com boa saúde –
não só fisicamente, mas têm tido pleno poder mental e sabedoria espiritual. O
território de “AHIMSA” produziu naturalmente os videntes dos Upanishads, o Buddha,
Mahavira, Gandhi , e uma série sem igual
de místicos e homens santos, e por essa razão, mesmo agora, embora haja uma
perceptível decadência, as pessoas olham para a Índia como a terra natal da
espiritualidade. É interessante notar que muitas pessoas notáveis que
experimentaram uma revelação mística – freqüentemente chamada de expansão da
consciência – tornaram-se naturalmente vegetarianas. Nesse grupo estão pessoas
como Shelley, Wagner e Charlotte Bronte, cujo “background” era contrário ao
vegetarianismo, mas que o escolheram mesmo assim. Porque existe uma relação
direta entre o fato de não matar e a abertura da visão espiritual, ou percepção
religiosa.
A crença amplamente majoritária, entre
nós ocidentais, de que os animais não têm sentimentos, é uma negação das
evidências diretas que os animais dão de seus sentimentos: a devoção e alegria
expressadas ao retorno do dono, a dor, e até as lágrimas quando machucados.
Tudo isso é visível para toda pessoa que não fechar deliberadamente seus olhos.
Como podemos negar ao animal o direito de viver, que nos reivindicamos para nós
mesmos, e a oportunidade de ser livre e feliz que vemos como nosso direito
inalienável? Os animais também foram criados por Deus, e portanto, também são
filhos de Deus.
Acredito que o caminho para o bem
estar não está em promover a nossa própria satisfação às custas de outros, ou
em prolongar nossa vida causando sofrimento a outras criaturas – seres humanos,
animais, aves, peixes, ou outros quaisquer.
Toda e qualquer agressão deve ser
evitada sempre que possível. Nenhum ferimento deve ser causado conscientemente
a outro ser. Assim, a
Lei da Causa e Efeito que vigora na Natureza trará, por si mesma , o que é bom. Pelo fato de hoje tantas pessoas
violarem aquela Lei, há crescentes dificuldades e sofrimentos.
(A Lei da Causa e
Efeito encontra-se enunciada por toda a Bíblia , tal como em Gálatas 6:7 , “
O que o homem plantar , aquilo mesmo colherá “ , mas também pode ser
localizada em Mateus 16:27 , em Lucas 6:37, em Jeremias 31: 30 , em Ezequiel
18:4 a 31 , em Lucas 12:59 , em João 5:14 , em Apocalipse 13:9 e 10 , e em 22 :
12 , em Romanos 2:1 a 15 e 6:2, em I Coríntios 3:8 e 3:13
, em II Coríntios
1:15 , em I Pedro :1:17
, em II Pedro
2:13 , em Efésios 6:8 , em Mateus 5 :18 , 5:25 , 6:12 , 6:14 e 13: 36, em Apocalipse 2:23 e 20:12 , e em dezenas de outras passagens.
Esta mesma lei foi reconhecida pelo físico inglês Sir Isaac Newton , que a
denominou de Lei da Ação e Reação , e resolveu , no século XVII , descrever e circunscrever seus efeitos apenas
ao campo da matéria física . Conhecido como uma das maiores inteligências que a
humanidade produziu , sendo também profundamente religioso e culto , Newton
certamente sabia das implicações metafísicas e universais da Lei da Causa e Efeito
, mas a decisão de publicar o seu alcance restrito apenas ao campo da matéria
física muito provavelmente deveu-se à época em que vivia , quando, por muito
menos, se ia parar nas fogueiras da Santa inquisição.)
Hoje as pessoas acreditam que ter um
coração impiedoso em relação aos animais – e tratar milhões deles como se
fossem objetos, materiais inertes que podem ser abertos e manipulados numa
fábrica produtora de carne – não tem qualquer efeito negativo sobre a sociedade
humana, mas, ao contrário, a beneficia. Esta é uma gigantesca falácia. Porque
os seres humanos estão treinando a si mesmos para serem indiferentes ao
sofrimento, e brutais no seu modo de pensar, e, irão agir, inevitavelmente, com
grande insensibilidade em relação à sua própria espécie . E é exatamente isto que estamos vendo
atualmente.
O modo gentil de viver, a simpatia e a
sensibilidade para com o bem estar de todas as criaturas, e uma capacidade de
apreciar o caráter sagrado da vida, são necessários para construir uma
civilização boa e pacífica .
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