Datada
de 15 de abril de 1881, três semanas antes de sua morte (08 de maio), foi lida
pela primeira vez na Convenção da Seção Norte-Americana da Sociedade Teosófica
no mesmo ano.
Sofrendo tão continuamente, como
agora estou, o único consolo que me resta é saber que a Causa progride, à qual
dediquei toda minha saúde e forças. Porém, como me faltam agora, só posso
oferecer minha mais intensa devoção e meus nunca escassos votos pelo seu êxito
e prosperidade. Companheiros teósofos, sinto-me orgulhosa de vosso incessante
trabalho em prol de nossa Causa comum, tão querida de todos nós.
Deixai que vos recorde, mais uma vez, que esse trabalho é
agora mais necessário do que nunca. O período que chegamos a alcançar é, e
continuará a ser, uma era de grandes lutas e esforços contínuos. Se a Sociedade
Teosófica puder manter-se firme, tanto melhor; se não, ainda que a Teosofia se
mantenha incólume, a Sociedade perecerá talvez de maneira não muito gloriosa, e
o mundo sofrerá com isso. Meus mais ardentes desejos são de que eu não chegue a
contemplar tal desastre em minha presente encarnação. A natureza crítica da
situação que atravessamos é tão conhecida das forças que lutam contra nós,
quanto das que militam a nosso favor. Não perderão oportunidade alguma para
espalhar a semente da discórdia e de se aproveitarem dos enganos e movimentos
falsos, destilando a dúvida nos corações para assim aumentarem as dificuldades;
alentando suspeitas de modo que, por todos os meios, havidos ou por haver,
possam chegar a solapar a unidade da Sociedade Teosófica, dizimando ou
dispersando as fileiras de nossos companheiros.
Nunca, jamais, como nos presentes momentos, será maior a
necessidade que têm os Membros da Sociedade de recordar e ter gravada nos
corações a velha parábola dos feixes e varas: divididas, poderão ser quebradas
uma a uma, inevitavelmente; porém, unidas, não haverá força na Terra capaz de
destruir nossa Irmandade. Mas tenho notado com grande pesar certa tendência que
existe entre nós, bem como entre os Teosofistas da Europa e Ásia, para as
desavenças sobre coisas insignificantes e permitir que vossa própria devoção à
Causa Teosófica vos conduz a desunião. Crede-me quando vos digo que, à parte as
tendências naturais inerentes às imperfeições da natureza humana, nossos
inimigos sempre alertas se aproveitam de vossas belas qualidades para vos
atraiçoar e conduzir pelo mau caminho. As pessoas céticas rir-se-ão destas declarações
e, talvez, existam muitos de voz que tenham fé na existência dessas terríveis
forças mentais, subjetivas, invisíveis, porém que nem por isso deixam de ser
forças viventes e poderosas que influem em vosso ambiente. Mas elas existem e
eu conheço mais de um dentre vós que as têm sentido e se viram necessitados de
reconhecer essas estranhas pressões mentais. Aqueles de vós que são sinceros e
abnegados devotos da Causa, pouco ou nenhuma impressão lhe causarão; mas, os
que sobrepõem seu orgulho ao dever contraído para com a Sociedade Teosófica, e
ainda por cima ao juramento ao seu Eu Divino, para esses, sim, o efeito será
geralmente desastroso.
Nunca é necessária tanta vigilância própria como quando
sentimos certo desejo de mando e de vaidade ferida, o qual se veste das
vistosas plumas do pavão real da devoção e do trabalho altruísta.
Na crise presente que atravessa a Sociedade Teosófica, qualquer
falta de domínio próprio e da devida vigilância será fatal em todos os casos.
Porém, essas tentativas diabólicas de nossos poderosos inimigos e
irreconciliáveis adversários das verdades que temos divulgado e mantido só
podem ser anuladas se cada um dos membros da Sociedade Teosófica se contentar
com o servir de força Impessoal para o bem, indiferente a todo elogio ou
censura que possa receber, e enquanto for útil aos propósitos da Irmandade.
Assim, o progresso obtido assombrará o mundo, e a área da Sociedade Teosófica
estará fora das águas perigosas.
Vossa situação de exploradores da sexta sub-raça da
Quinta Raça Raiz tem seus inconvenientes e riscos peculiares, bem como suas
vantagens. O psiquismo com todas as suas tentações e perigos se desenvolve
necessariamente entre vós e deveis ter cuidado a fim de que não exceda o
desenvolvimento manásico e o espiritual. As faculdades psíquicas, sobre o
controle de Manas (Mente), são valiosas auxiliares no desenvolvimento; porém,
quando tais faculdades se encontram num estado de desenfreio, dominando em vez
de serem dominadas, ultilizando-nos em lugar de serem utilizadas, induzem o
estudante aos maiores perigos de alucinações e a uma verdadeira destruição
moral. Vigiai, pois, atentamente esse desenvolvimento inevitável à Raça e o
Período Evolutivo em que vivemos, para que com o tempo seja utilizado para o
bem e não para o mal. Assim recebereis adiantadamente as mais sinceras e
eficazes Bênçãos d’Aqueles cuja Bondade nunca vós faltará, se não Lhes
faltardes.
E com isso, tudo fica dito. Não me encontro suficientemente
forte para escrever uma mensagem mais extensa; muito menos tendes necessidade
dela, quando minha amiga e mensageira de confiança, Annie Besant, que é hoje o
meu braço direito, poderá explicar-vos meus desejos com maior e melhor
facilidade do que eu em escrever-vos. Finalmente, estes meus desejos e
pensamentos eu os poderia resumir nessa breve sentença, que é o palpitante
anelo de meu coração: “Sede Teósofos e
trabalhai pela Teosofia”.
Acima de tudo e sempre a Teosofia, pois sua prática seria
a única coisa para salvar o mundo ocidental deste sentimento egoísta e pouco
fraterno que divide as nações; e também acabar com esse ódio e distinções
sociais que são o anátema dos chamados povos cristãos.
Unicamente a Teosofia poderá salvá-los de caírem no
materialismo voluptoso que há de degenerá-los e corrompê-los, tal como já
aconteceu com outras civilizações.
Em vossas mãos deixo meus irmãos, confiado o futuro do
próximo século e assim, como é grande o que vos confio, muito grande será
também a vossa responsabilidade.
É curto o tempo que me resta de vida, mas se alguns de
vós tiverdes aprendido algo de meus ensinamentos, ou com o seu auxílio alcançado
um vislumbre sequer da Verdadeira Luz, eu vos peço, como recompensa, que fortaleçais
a Causa, com cujo triunfo a Verdadeira Luz, mais resplandecente e mais gloriosa
ainda por vossos esforços pessoais e coletivos, iluminará o mundo e dessa
maneira, eu antes de partir deste corpo extenuado, contemplarei, já assegurada,
a estabilidade da Sociedade.
Que a Bênção dos Grandes seres do passado e do presente
esteja convosco. De minha parte, recebei a completa segurança de meus puros e
eternos sentimentos de amor fraternal, e as mais sinceras graças de todo
coração pelo trabalho que todos tendes realizado.
De vossa fiel servidora,
H. P. Blavatsky
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