sábado, 10 de janeiro de 2015

Última mensagem de Blavatsky aos teosofistas


Datada de 15 de abril de 1881, três semanas antes de sua morte (08 de maio), foi lida pela primeira vez na Convenção da Seção Norte-Americana da Sociedade Teosófica no mesmo ano.
           
Sofrendo tão continuamente, como agora estou, o único consolo que me resta é saber que a Causa progride, à qual dediquei toda minha saúde e forças. Porém, como me faltam agora, só posso oferecer minha mais intensa devoção e meus nunca escassos votos pelo seu êxito e prosperidade. Companheiros teósofos, sinto-me orgulhosa de vosso incessante trabalho em prol de nossa Causa comum, tão querida de todos nós.

            Deixai que vos recorde, mais uma vez, que esse trabalho é agora mais necessário do que nunca. O período que chegamos a alcançar é, e continuará a ser, uma era de grandes lutas e esforços contínuos. Se a Sociedade Teosófica puder manter-se firme, tanto melhor; se não, ainda que a Teosofia se mantenha incólume, a Sociedade perecerá talvez de maneira não muito gloriosa, e o mundo sofrerá com isso. Meus mais ardentes desejos são de que eu não chegue a contemplar tal desastre em minha presente encarnação. A natureza crítica da situação que atravessamos é tão conhecida das forças que lutam contra nós, quanto das que militam a nosso favor. Não perderão oportunidade alguma para espalhar a semente da discórdia e de se aproveitarem dos enganos e movimentos falsos, destilando a dúvida nos corações para assim aumentarem as dificuldades; alentando suspeitas de modo que, por todos os meios, havidos ou por haver, possam chegar a solapar a unidade da Sociedade Teosófica, dizimando ou dispersando as fileiras de nossos companheiros.

            Nunca, jamais, como nos presentes momentos, será maior a necessidade que têm os Membros da Sociedade de recordar e ter gravada nos corações a velha parábola dos feixes e varas: divididas, poderão ser quebradas uma a uma, inevitavelmente; porém, unidas, não haverá força na Terra capaz de destruir nossa Irmandade. Mas tenho notado com grande pesar certa tendência que existe entre nós, bem como entre os Teosofistas da Europa e Ásia, para as desavenças sobre coisas insignificantes e permitir que vossa própria devoção à Causa Teosófica vos conduz a desunião. Crede-me quando vos digo que, à parte as tendências naturais inerentes às imperfeições da natureza humana, nossos inimigos sempre alertas se aproveitam de vossas belas qualidades para vos atraiçoar e conduzir pelo mau caminho. As pessoas céticas rir-se-ão destas declarações e, talvez, existam muitos de voz que tenham fé na existência dessas terríveis forças mentais, subjetivas, invisíveis, porém que nem por isso deixam de ser forças viventes e poderosas que influem em vosso ambiente. Mas elas existem e eu conheço mais de um dentre vós que as têm sentido e se viram necessitados de reconhecer essas estranhas pressões mentais. Aqueles de vós que são sinceros e abnegados devotos da Causa, pouco ou nenhuma impressão lhe causarão; mas, os que sobrepõem seu orgulho ao dever contraído para com a Sociedade Teosófica, e ainda por cima ao juramento ao seu Eu Divino, para esses, sim, o efeito será geralmente desastroso.

            Nunca é necessária tanta vigilância própria como quando sentimos certo desejo de mando e de vaidade ferida, o qual se veste das vistosas plumas do pavão real da devoção e do trabalho altruísta.

            Na crise presente que atravessa a Sociedade Teosófica, qualquer falta de domínio próprio e da devida vigilância será fatal em todos os casos. Porém, essas tentativas diabólicas de nossos poderosos inimigos e irreconciliáveis adversários das verdades que temos divulgado e mantido só podem ser anuladas se cada um dos membros da Sociedade Teosófica se contentar com o servir de força Impessoal para o bem, indiferente a todo elogio ou censura que possa receber, e enquanto for útil aos propósitos da Irmandade. Assim, o progresso obtido assombrará o mundo, e a área da Sociedade Teosófica estará fora das águas perigosas.

            Vossa situação de exploradores da sexta sub-raça da Quinta Raça Raiz tem seus inconvenientes e riscos peculiares, bem como suas vantagens. O psiquismo com todas as suas tentações e perigos se desenvolve necessariamente entre vós e deveis ter cuidado a fim de que não exceda o desenvolvimento manásico e o espiritual. As faculdades psíquicas, sobre o controle de Manas (Mente), são valiosas auxiliares no desenvolvimento; porém, quando tais faculdades se encontram num estado de desenfreio, dominando em vez de serem dominadas, ultilizando-nos em lugar de serem utilizadas, induzem o estudante aos maiores perigos de alucinações e a uma verdadeira destruição moral. Vigiai, pois, atentamente esse desenvolvimento inevitável à Raça e o Período Evolutivo em que vivemos, para que com o tempo seja utilizado para o bem e não para o mal. Assim recebereis adiantadamente as mais sinceras e eficazes Bênçãos d’Aqueles cuja Bondade nunca vós faltará, se não Lhes faltardes.

            E com isso, tudo fica dito. Não me encontro suficientemente forte para escrever uma mensagem mais extensa; muito menos tendes necessidade dela, quando minha amiga e mensageira de confiança, Annie Besant, que é hoje o meu braço direito, poderá explicar-vos meus desejos com maior e melhor facilidade do que eu em escrever-vos. Finalmente, estes meus desejos e pensamentos eu os poderia resumir nessa breve sentença, que é o palpitante anelo de meu coração: “Sede Teósofos e trabalhai pela Teosofia”.

            Acima de tudo e sempre a Teosofia, pois sua prática seria a única coisa para salvar o mundo ocidental deste sentimento egoísta e pouco fraterno que divide as nações; e também acabar com esse ódio e distinções sociais que são o anátema dos chamados povos cristãos.
            Unicamente a Teosofia poderá salvá-los de caírem no materialismo voluptoso que há de degenerá-los e corrompê-los, tal como já aconteceu com outras civilizações.

            Em vossas mãos deixo meus irmãos, confiado o futuro do próximo século e assim, como é grande o que vos confio, muito grande será também a vossa responsabilidade.

            É curto o tempo que me resta de vida, mas se alguns de vós tiverdes aprendido algo de meus ensinamentos, ou com o seu auxílio alcançado um vislumbre sequer da Verdadeira Luz, eu vos peço, como recompensa, que fortaleçais a Causa, com cujo triunfo a Verdadeira Luz, mais resplandecente e mais gloriosa ainda por vossos esforços pessoais e coletivos, iluminará o mundo e dessa maneira, eu antes de partir deste corpo extenuado, contemplarei, já assegurada, a estabilidade da Sociedade.
            Que a Bênção dos Grandes seres do passado e do presente esteja convosco. De minha parte, recebei a completa segurança de meus puros e eternos sentimentos de amor fraternal, e as mais sinceras graças de todo coração pelo trabalho que todos tendes realizado.

            De vossa fiel servidora,


H. P. Blavatsky

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